terça-feira, 28 de junho de 2016

BREXIT: Uma análise necessária


  O povo britânico votou, nesta quinta-feira (23), pela saída do Reino Unido da União Europeia. O BREXIT, termo utilizado para denominar o British Exit - que pode ser traduzido como: Saída Britânica - ganhou repercussão mundial por ser aquela uma das nações mais importantes para a sobrevivência do bloco econômico. Sua entrada no grupo data do ano de 1973, e desde então participa ativamente da agenda internacional proposta pelos órgãos da U.E.

  Porém, os ventos mudaram. O processo de saída, ainda que não seja definitivo (podendo ser revertido pelo Parlamento) é tido como certo, já que os representantes não irão tomar decisões contra a opinião exarada pelo povo.

  E é exatamente essa a questão mais necessária a ser a analisada: o povo. Para entender a soberania da decisão tomada lá, são necessários dois pressupostos, quais sejam: o grande crescimento migrações ao Reino Unido, que, fazendo parte da União Europeia, deixa suas fronteiras abertas; e os recentes ataques terroristas que vêm assolando o continente europeu.

  Feitas essas considerações, aprofundemos um pouco mais o assunto. 

  Calcula-se que o Reino Unido tenha recebido 300 mil cidadãos estrangeiros a mais do que saíram, somente no período entre março de 2014 e março de 2015 (BBC). Esses números, certamente, só tendem a crescer. Pelo menos até a definitiva saída do país do bloco europeu.

  O aumento está fortemente ligado com a crise econômica enfrentada por países como Grécia, Espanha, Portugal e países do leste europeu, que veem seus nacionais partindo em busca de novas oportunidades.

  Assim, O Reino Unido se tornou um país atrativo. A economia forte, em crescimento, as boas condições de vida e o alto desenvolvimento econômico, aliados com a facilidade de ingresso de imigrantes serviu como imã para esses cidadãos em busca de uma vida melhor.

  Nesse mesmo sentido, a crise política nos países do Oriente e o avanço do Estado Islâmico empurraram milhares, senão milhões de pessoas para o território europeu. Esses migrantes, carentes do auxílio internacional, enfrentam graves dificuldades em se firmar e começar uma nova vida. Muitos europeus entendem que não há mais espaço para migrantes, diante de um continente saturado, onde as oportunidades cada vez mais se reduzem.

  No mais, o que serviu de tempero para esse caldeirão são os ataques terroristas financiados pelo Estado Islâmico que vêm ocorrendo, repetitivamente, no continente europeu. Sabe-se que ações terroristas, como as vivenciadas em Paris e Bruxelas, são extremamente difíceis de se prever. Um dos motivos para isso é que as fronteiras estão – ou estavam – cada vez mais abertas aos imigrantes do mundo inteiro e os países do Euro enfrentam um grande dilema perante os órgãos internacionais de proteção aos Direitos Humanos, sobretudo os que atuam nos direitos dos refugiados.

  Veja que esses atos despertam um forte sentimento de aversão à população islâmica e árabe de um modo geral, que se veem injustiçadas pelos atos de uma minoria radical, que prega o ódio como forma de difundir sua aversão aos pensamentos ocidentais.

  Mas, enfim, a pergunta que se faz é: O que se esconde por trás da decisão tomada pelo povo britânico?

  Simples. O que se demonstrou acima serviu como combustível para o desenvolvimento do pensamento nacionalista nos países europeus. Políticos da extrema direita vêm ganhando força eleitoral, uma vez que exprimem um sentimento de aversão aos estrangeiros e empoderamento da população nacional perante eles. Exatamente, esse mesmo pensamento que, outrora distorcido, serviu como base para a Alemanha justificar as práticas de genocídio e xenofobia. Entenda: não se diz aqui que os britânicos estejam na mesma condição que os alemães estavam na década de 1930, mas sim, observa-se hoje na Europa, sobretudo nos países com maior desenvolvimento econômico, um forte crescimento de partidos políticos e ideais nacionalistas.

  Nacionalismo esse que impõe aos cidadãos de um Estado o sentimento de aproximação e identificação. De comunhão entre os cidadãos de um país. Quer-se, com isso, o crescimento de um certo sentimento de se pertencer a uma cultura, uma região, uma língua. O que, consequentemente, gera a repulsa daqueles que não integram esse determinado Estado.

  Esse pensamento vai totalmente de encontro com o que prega a União Europeia, que é o ideal de liberdade entre os países, uma ideia de comunidade global, que, se exitosa, serviria de exemplo para o mundo todo. Sabe-se agora que a ideia não está funcionando, pelo menos segundo a visão do seu próprio povo. O Reino Unido foi a primeira nação a dar ao povo a opção de ficar ou sair.

  Quero concluir essa tese tecendo breves considerações sobre o futuro do bloco europeu e seus reflexos para o mundo:

  Em primeiro lugar, a saída do Reino Unido serve como uma espécie de blindagem que o povo britânico - cada vez mais revestido pelo pensamento nacionalista, fortemente influenciado pelos políticos britânicos, pelo sentimento de aversão aos imigrantes e pelo medo de ataques terroristas - entende ser necessária para proteger os seus próprios interesses e dos seus nacionais, como demonstração do ideal nacionalista que lá surge.

  Por fim, a decisão das urnas no Reino Unido servirá como precedente para que políticos de extrema direita se valham do mesmo artifício para incentivar o governo a consultar a população sobre se querem ou não permanecer no bloco. Já é o que pretende Marine Le Pen, política francesa da extrema direita, que já concorreu às eleições presidenciais e está ganhando destaque pelo seu pensamento antimigratório, principalmente diante do recente ataque à capital da França. Com isso, perdem todos: os países, os cidadãos, o mundo de modo geral e, sobretudo aqueles em condição de vulnerabilidade – principalmente os refugiados políticos – que encontrarão cada vez mais um sentimento de antipatia do povo que poderia recebê-los na difícil condição em que se encontram. 

  No atual cenário europeu, onde políticos e o povo se inclinam cada vez mais à direita e ao pensamento ultranacionalista, ninguém sabe dizer qual será o futuro da Europa. Espera-se, tão somente, que seus cidadãos saibam olhar para a própria História e evitem cometer os mesmos erros que cometeram no passado.


Arthur Chahda