Interestelar de Cristopher Nolan foi escrito pelo seu irmão, Jonathan Nolan, mas a encomenda de direção era para o pai da ficção científica, Steven Spielberg (isso explica toda a delicadeza que percebemos com as emoções familiares e as cenas iniciais para nos apegarmos aos personagens). Se conta a história de um futuro de data incerta, onde a Terra sofre com uma grande praga que dizimou boa parte da comida do planeta, transformando tudo em pó. A fome e sofrimento, bastante inspirados na grande crise de 1930, fazem com que a NASA opere na clandestinidade e até as missões à Lua sejam desacreditadas nos livros de história. "Não temos como justificar bilhões de dólares em gastos aqui enquanto pessoas estão morrendo de fome", diz Professor Brand (Michael Caine mais uma vez atuando sob as lentes de Nolan). Quem fica feliz em saber que a agência espacial ainda está ativa é o ex-piloto Cooper (Matthew McConaughey mantendo sua série de ótimos papéis), que tem de escolher entre ficar na fazenda com a sua família na Terra ou viajar ao espaço em busca de novos planetas onde a humanidade pode ser reconstruída.
Nolan consegue nos apresentar um filme de ficção científica das mais puristas já feitas, que nos faz questionar além de questões físicas de tempo, espaço, dimensões e relatividade, como também a força do amor, fé,decisões e conexões familiares. O amor consegue ultrapassar o tempo e dimensão?
As quase três horas de filmes pode ser bem cansativo para quem espera ver um filme de ação e grandes efeitos especiais, como fora apresentado ano passado em Gravidade com Sandra Bullock. A premissa desse filme chega muito mais uma auto-reflexão do que uma simples diversão, com muito mais contemplações e silêncios.
Compulsivo por controle, purista e meticuloso, Nolan se gaba de não ter usado chroma-key durante as filmagens. O cineasta e sua equipe estudaram antigas técnicas de filmagem, retroprojeções, filmaram em locações e construíram o máximo de sets que o orçamento permitiu. Cenas no espaço eram projetadas em imensos telões enquanto as câmeras captavam as emoções nos rostos dos atores. E funciona!Interestelar tem as melhores atuações de um filme de Nolan - e precisava disso, pois trata de temas como abandono, solidão e esperança.
E enquanto Spielberg e Scorsese já se aventuraram pelo mundo do cinema digital e 3D Nolan discursa para quem quiser ouvir que prefere fazer seus longas em película, de preferência em 70mm, daí sua predileção pelo IMAX. E como fica lindo! Se antes as salas do sistema estavam confinadas a museus e as exibições se limitavam a filmes sobre dinossauros, explorações submarinas e, claro, o espaço, Interestelar chega provando mais uma vez que tamanho é documento, sim.

André Bludeni



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