quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Jido

  Eu comecei e recomecei esse texto várias vezes. Fazia tempo que não escrevia algo, pois minha vontade de expor o que sinto era nula. Talvez um certo receio de me mostrar fraco ou frágil, mas uma coisa que o senhor me ensinou foi sempre fazer as coisas com o coração e com vontade.
  Lembro-me dos finais de manhã de Domingos onde íamos juntos comprar esfihas para a família. Eram as melhores horas da semana, pois sempre eram recheadas de histórias da sua infância que me faziam rir durante o dia todo. Todos sabiam que o seu temperamento emburrado era apenas uma "crosta" que guardava um homem carinhoso, preocupado com a família e muito bondoso.
  Quantas vezes o senhor não fez a família inteira rir com suas frases? Vô, o senhor não era só um líder, um pai de família ou um simples vovô. O senhor era o Jidão! Com os melhores conselhos e em poucas palavras. Mesmo falando baixo, todos paravam o que estavam fazendo para escutá-lo. Palavras de ouro! Um exemplo, um grande amigo. Todos sabíamos que se quiséssemos ter alguns minutos de aula sobre a vida, era só ir no final de tarde na padaria para um cafezinho com o senhor. E que aulas....Não importava o problema que tínhamos, a gravidade ou a complicação, o senhor sempre teve as palavras certas que nos acalmavam e nos mostravam a direção correta do que devíamos fazer.
  Esse "turquinho" que todos brincavam dizendo que não prestava, na verdade era o que mais prestava! Sempre muito fiel a família e a todos a sua volta. Construiu mais do que um império, o senhor construiu uma linda família onde todos são orgulhosos de dizer que tiveram Assib Bludeni em suas vidas.
  Nunca ouvi nenhuma história tão apaixonante como a do senhor detalhando como conheceu e se apaixonou pela minha avó. Guardarei com carinho também suas histórias de sua adolescência no antigo Centro de São Paulo e como construiu a nossa família.
  Levarei comigo cada segundo que passei com o senhor. Desde e os cotidianos momentos que vinha da cozinha com um copo de café frio ( o seu favorito) até o dia que lhe vi emocionado em sua festa de Bodas de Ouro. Todos nós teremos um pouquinho do Assib dentro de nós, seja nas gírias inventadas como "chapichinado" e "london shur", nas imitações que fazíamos de você e no grande exemplo de homem que o senhor foi para todos nós.
  Infelizmente estou longe e não pude te dar um abraço e um beijo de tchau. Mas não se preocupe jido, você nunca vai estar longe de mim. Jamais! A última vez que consegui conversar com você direitinho, o senhor disse "Não vejo a hora de te ver em Fevereiro...". Não se preocupe vô. O senhor nunca me deixou em nenhum momento.
  Hoje não estou te dando adeus, estou te dando um até logo. Seus passos serão meu exemplo e minha homenagem ao senhor. Quem sabe, um dia, consiga pelo menos ser metade do grande homem que o senhor foi.
  Mesmo agora o senhor nos deu outro ensinamento, mostrando que a família é mais importante do que tudo. Essa sempre será a maior lição que levarei junto a mim. Em resposta ao seu famoso cumprimento pra mim (Andrézão, meu amigo!) eu te respondo com outra frase típica sua.... "Estamos aí! Esse é o buchicho de hoje."

  Obrigado por tudo Jido.

segunda-feira, 11 de julho de 2016

Uma critica a sociedade que não usa espelho II

Gosto muito de pensar nas coisas da vida, juntamente com as minhas reações e as reações alheias em cada situação do dia-a-dia. Estive pensando recentemente em um caso que aconteceu comigo há alguns anos, mas que ainda me gera reflexão.
Era umas 17h da tarde de um sábado e uma amiga me liga fazendo um convite para ir pra casa dela. O motivo? Havia alguns amigos dela e a ideia era beber umas cervejas (alguns deles eu conhecia e outros não). Como morava perto, não me demorei a chegar lá.
Chegando, lembro-me que na casa dela tinham em torno de cinco pessoas ( duas conhecidas), além da minha amiga. O caso foi com outra pessoa que estava lá, um cara que eu não conhecia, mas era muito gente fina. O tipo desses caras que se da bem como todo mundo, conversa de tudo numa boa. Negro, mais ou menos 175cm de altura, magro, dread’s, baterista de uma banda de reggae.
Basicamente tudo que se precisa pra se sofrer preconceito pela “sociedade”, mas vamos ao caso que me gera reflexão até hoje:
Uma certa hora da noite, acabou a cerveja, logo alguém tinha que sair para comprar e isso caiu justamente para mim e para o rapaz em questão, a gente foi e aproveitou pra ir jogando papo fora no caminho. Em uma certa altura da conversa ele me fala o seguinte:
- Cara, veja como as coisas são: O preconceito não parte apenas de um lado, ele parte de todos, eu por exemplo sou “rasta”, uso dread’s, fumo maconha, curto um reggae e sou preconceituoso! Quando a menina disse que o amigo dela (você) ia vir e que você era uma cara legal, comecei logo a imaginar que você era um cara chato e outras coisas, logo eu já criei um PREconceito seu....
Agora paremos para pensar, pare para analisar o seguinte:
QUEM NESSE MUNDO NÃO É PRECONCEITUOSO?
Todos nós somos, todos criamos um conceito já de cara sobre alguém e normalmente esse conceito que criamos é negativo.
Todo preto é ladrão...
Todo branco é playboy...
Todo rico é metido...
Todo nordestino é burro...
E por ai vamos criando esses conceitos, vamos tachando as pessoas sem conhece-las realmente, sem saber quem realmente são e sem dar a oportunidade disso.  As vezes são pessoas maravilhosas, com historias lindas, com uma boa risada...              
E agora fica a dica do “Tiu Viny”: Deem a si mesmo a oportunidade de conhecer novas pessoas, pessoas de ambientes diferentes dos seus, de vibes diferentes da sua, conheçam algo novo, isso vai te ajudar a abrir sua mente e diminuir esse PRECONCEITO que todos temos.

Obrigado.


Viny Uchôa

terça-feira, 28 de junho de 2016

BREXIT: Uma análise necessária


  O povo britânico votou, nesta quinta-feira (23), pela saída do Reino Unido da União Europeia. O BREXIT, termo utilizado para denominar o British Exit - que pode ser traduzido como: Saída Britânica - ganhou repercussão mundial por ser aquela uma das nações mais importantes para a sobrevivência do bloco econômico. Sua entrada no grupo data do ano de 1973, e desde então participa ativamente da agenda internacional proposta pelos órgãos da U.E.

  Porém, os ventos mudaram. O processo de saída, ainda que não seja definitivo (podendo ser revertido pelo Parlamento) é tido como certo, já que os representantes não irão tomar decisões contra a opinião exarada pelo povo.

  E é exatamente essa a questão mais necessária a ser a analisada: o povo. Para entender a soberania da decisão tomada lá, são necessários dois pressupostos, quais sejam: o grande crescimento migrações ao Reino Unido, que, fazendo parte da União Europeia, deixa suas fronteiras abertas; e os recentes ataques terroristas que vêm assolando o continente europeu.

  Feitas essas considerações, aprofundemos um pouco mais o assunto. 

  Calcula-se que o Reino Unido tenha recebido 300 mil cidadãos estrangeiros a mais do que saíram, somente no período entre março de 2014 e março de 2015 (BBC). Esses números, certamente, só tendem a crescer. Pelo menos até a definitiva saída do país do bloco europeu.

  O aumento está fortemente ligado com a crise econômica enfrentada por países como Grécia, Espanha, Portugal e países do leste europeu, que veem seus nacionais partindo em busca de novas oportunidades.

  Assim, O Reino Unido se tornou um país atrativo. A economia forte, em crescimento, as boas condições de vida e o alto desenvolvimento econômico, aliados com a facilidade de ingresso de imigrantes serviu como imã para esses cidadãos em busca de uma vida melhor.

  Nesse mesmo sentido, a crise política nos países do Oriente e o avanço do Estado Islâmico empurraram milhares, senão milhões de pessoas para o território europeu. Esses migrantes, carentes do auxílio internacional, enfrentam graves dificuldades em se firmar e começar uma nova vida. Muitos europeus entendem que não há mais espaço para migrantes, diante de um continente saturado, onde as oportunidades cada vez mais se reduzem.

  No mais, o que serviu de tempero para esse caldeirão são os ataques terroristas financiados pelo Estado Islâmico que vêm ocorrendo, repetitivamente, no continente europeu. Sabe-se que ações terroristas, como as vivenciadas em Paris e Bruxelas, são extremamente difíceis de se prever. Um dos motivos para isso é que as fronteiras estão – ou estavam – cada vez mais abertas aos imigrantes do mundo inteiro e os países do Euro enfrentam um grande dilema perante os órgãos internacionais de proteção aos Direitos Humanos, sobretudo os que atuam nos direitos dos refugiados.

  Veja que esses atos despertam um forte sentimento de aversão à população islâmica e árabe de um modo geral, que se veem injustiçadas pelos atos de uma minoria radical, que prega o ódio como forma de difundir sua aversão aos pensamentos ocidentais.

  Mas, enfim, a pergunta que se faz é: O que se esconde por trás da decisão tomada pelo povo britânico?

  Simples. O que se demonstrou acima serviu como combustível para o desenvolvimento do pensamento nacionalista nos países europeus. Políticos da extrema direita vêm ganhando força eleitoral, uma vez que exprimem um sentimento de aversão aos estrangeiros e empoderamento da população nacional perante eles. Exatamente, esse mesmo pensamento que, outrora distorcido, serviu como base para a Alemanha justificar as práticas de genocídio e xenofobia. Entenda: não se diz aqui que os britânicos estejam na mesma condição que os alemães estavam na década de 1930, mas sim, observa-se hoje na Europa, sobretudo nos países com maior desenvolvimento econômico, um forte crescimento de partidos políticos e ideais nacionalistas.

  Nacionalismo esse que impõe aos cidadãos de um Estado o sentimento de aproximação e identificação. De comunhão entre os cidadãos de um país. Quer-se, com isso, o crescimento de um certo sentimento de se pertencer a uma cultura, uma região, uma língua. O que, consequentemente, gera a repulsa daqueles que não integram esse determinado Estado.

  Esse pensamento vai totalmente de encontro com o que prega a União Europeia, que é o ideal de liberdade entre os países, uma ideia de comunidade global, que, se exitosa, serviria de exemplo para o mundo todo. Sabe-se agora que a ideia não está funcionando, pelo menos segundo a visão do seu próprio povo. O Reino Unido foi a primeira nação a dar ao povo a opção de ficar ou sair.

  Quero concluir essa tese tecendo breves considerações sobre o futuro do bloco europeu e seus reflexos para o mundo:

  Em primeiro lugar, a saída do Reino Unido serve como uma espécie de blindagem que o povo britânico - cada vez mais revestido pelo pensamento nacionalista, fortemente influenciado pelos políticos britânicos, pelo sentimento de aversão aos imigrantes e pelo medo de ataques terroristas - entende ser necessária para proteger os seus próprios interesses e dos seus nacionais, como demonstração do ideal nacionalista que lá surge.

  Por fim, a decisão das urnas no Reino Unido servirá como precedente para que políticos de extrema direita se valham do mesmo artifício para incentivar o governo a consultar a população sobre se querem ou não permanecer no bloco. Já é o que pretende Marine Le Pen, política francesa da extrema direita, que já concorreu às eleições presidenciais e está ganhando destaque pelo seu pensamento antimigratório, principalmente diante do recente ataque à capital da França. Com isso, perdem todos: os países, os cidadãos, o mundo de modo geral e, sobretudo aqueles em condição de vulnerabilidade – principalmente os refugiados políticos – que encontrarão cada vez mais um sentimento de antipatia do povo que poderia recebê-los na difícil condição em que se encontram. 

  No atual cenário europeu, onde políticos e o povo se inclinam cada vez mais à direita e ao pensamento ultranacionalista, ninguém sabe dizer qual será o futuro da Europa. Espera-se, tão somente, que seus cidadãos saibam olhar para a própria História e evitem cometer os mesmos erros que cometeram no passado.


Arthur Chahda

quinta-feira, 12 de maio de 2016

Brasil precisa de um Batman!

Caos! Para mim não é a melhor palavra para descrever o estado que o país se encontra.

Diante de tamanhos escândalos políticos, de corrupção, quebra econômica e indignação dos cidadãos brasileiros, o país se afundou em um profundo abismo negro que revolta e violência são os protagonistas da cena.

Mesmo concordando com o impeachment da Presidente Dilma, não é essa a luz no fim do túnel, muito menos vejo o novo Presidente em exercício, Michel Temer o salvador dos oprimidos, mesmo achando, de forma rude, ele como um "mal necessário".

Muitos dizem que agora o povo clamou o "basta!" e que a população acordou, mas ainda creio que estamos cegos, guiados por um rancor interno que se resulta e reflete em discursos de ódios e expressões sem fundamento política e/ou histórico. Seja de esquerda ou direita!

Agora, qual será a solução já que vejo esse país no fim do poço?

Bem, como um amante de quadrinhos, foi inevitável fazer a analogia ao super-herói mais famoso do mundo e suas histórias: Batman!

Muito bem representado nas obras cinematográficas de Christopher Nolan, Batman é o herói que precisamos, não que merecemos.

Diferentemente de Superman que a caracterização do homem/Deus perfeito, o Homem Morcego é um ser humano sem super poderes que se sacrifica pelo bem maior da sociedade.

Mascarado, ele é uma ideia e não um herói único. Batman é a representação de um ideal de luta por mudanças. Essas que podem vir de qualquer um, sendo ele apenas um empurrão para a sociedade acordar e emergir da escuridão  que o transformou em quem ele é, o Cavaleiro das Trevas.

Ora, e não é isso que somos? Pessoas moldadas pelas trevas que o país está? Logo necessitamos de um ideal, sem face, que lute pela mudança e o fim deste mal pela raiz, custe o que custa.

Somos, que nem Bruce Wayne, órfãos traumatizados pela perda de nossas inspirações (leia-se pais, nos quadrinhos), com falta de amparo e atenção.

Batman, nada mais é, que a superação, nos moldes apresentados, de uma luta de ideias para um bem maior.

Aqui concluo que o Brasil precisa de um Batman. Uma pessoa que ainda não fora apresentado pra sociedade, que não mostre a face, apenas lute pelo bem de todos, mesmo que seja julgado por muitos como um vilão, pois ele conseguirá suportar. Um vigilante, mas que seja um atento guardião! Um Cavaleiro das Trevas na República do Brasil


André Bludeni

quinta-feira, 28 de abril de 2016

Criticando Cinema: Capitão América - Guerra Civil

  Para os leitores de quadrinhos, sempre as melhores edições e sagas que lançavam, eram aquelas em que nossos super-heróis favoritos se encontravam dentro de uma trama e brigavam pelos motivos mais torpes que pudessem existir. A sensação de apostar em um herói era mesma que ver algum clássico de jogo de futebol pela televisão. Graças a deus o cinema agora traz essa sensação novamente e em alto nível de qualidade.

  Após Batman vs Superman, a expectativa para Capitão América- Guerra Civil era se o filme teria qualidade o suficiente para ser um bom filme de embate de heróis ou se ele seria mais um (e tão bom quanto) filme pipoca da Marvel.


  Muita coisa tramitava as escondidas dentro desse filme, pois a saga Guerra Civil nos quadrinhos (uma das melhores já feitas) juntava dezenas de heróis da Marvel, muitos que ela ainda não possui direitos dentro do Universo Cinematográfico, e uma briga por um motivo um tanto quanto difícil de adaptar para os cinemas por questão de patriotismo e falta de personagens. Outros dois grandes pontos de interrogação era a introdução de dois novos personagens: Pantera Negra, o Rei de Wakanda e primeiro super-herói protagonista negro apresentado pelo Universo Cinematográfico da Marvel e a grande (e muito esperada) volta de Homem-Aranha para seu estúdio de origem, com nova roupagem, ator e universo.


  Primeiramente, Capitão América – Guerra Civil, surpreende pelo tom que é entregue ao público. Como já tinham feito em O Soldado Invernal, os Irmãos Russo trazem uma trama mais adulta, logo pode esperar sangue e muita cena de ação com trama política no meio. Surpreende bastante, uma vez que a Marvel já havia destacado bem que seu filme era feito para todos os públicos. Mesmo com esse tom mais pesado, o filme traz bastante humor, pois não podemos esquecer que estamos falando de filmes da Disney.


  A história acontece baseada nos acontecimentos de Sokovia, cidade destruída em A Era de Ultron, e o Tratado que limita as ações dos super-heróis, como também no passado de Bucky Barnnes, O Soldado Invernal. Enquanto Tony Stark e seu grupo preferem caçar Bucky por verem ele como um terrorista e ao mesmo tempo seguir o Tratado, Capitão América e seus amigos decidem ajudar o velho companheiro Invernal e seguirem suas próprias regras fora do Tratado para não serem manipulados no futuro.

  Além de Tony e Steve, muitos outros Vingadores voltam para este filme e todos com participações ótimas, principalmente Wanda Maximoff e Visão, que são muito melhor explorados neste filme do que no segundo Vingadores. Uma atenção especial para Homem Formiga que mesmo tendo pequena participação traz o público a gargalhadas e a euforia em seu pouco tempo de tela comparado aos outros personagens.



  A participação e apresentação de Pantera Negra são bem redondas, mostrando um ótimo início para o personagem em uma sub-trama contida e fechada. As cenas de ação com o felino são muito boas, mas levemente exagerada no CGI (um grande erro desse filme). Já o Amigo da Vizinha tem as melhores cenas do filme, trazendo muito humor na medida certa, um novo universo onde todos ficaram loucos para conhecer mais e cenas de ação perfeitas. Homem Aranha de volta para a Marvel realmente foi o grande feito deste filme.


  Não podemos deixar de falar de alguns defeitos que o filme tem, como por exemplo a primeira parte do longa que parece enrolar muito o público que está mais interessado na pancadaria. Outro defeito é o grande vilão do filme, Zemo, que em comparação a um dos grandes vilões de Capitão América nos quadrinhos, Barão Zemo, só tem o nome. A motivação do vilão também é fraca e muito reaproveitada de outro vilão recente dos cinemas ( sem spoilers!).


  É impossível não comparar Guerra Civil com Batman vs Superman.? Bom, ambos são ótimos filmes e mesmo sendo os dois histórias de grandes super-heróis amados pelos seus fãs lutando um contra o outro, cada um é completamente diferente do outro. É nitidamente visível para quem já assistiu os dois de que o foco de cada filme é uma coisa. Eles podem ter características bem semelhantes ao longo de suas histórias, mas ao mesmo tempo tudo é completamente diferente. Seja no tom, no estilo de direção, fotografia, na própria ação e humor.


  No final de tanta briga entre heróis nesses dois últimos meses, foi o público saiu ganhando. Mas com certeza os estudiosos vão ser os vitoriosos.







André Bludeni

quarta-feira, 20 de abril de 2016

Cinderela Part.2 (+18)

 Nada durante o caminho prendeu a atenção de Leonardo. Aquela agonia fazia ele se irritar mais do que o costume, passando de propósito por alguns sinais vermelhos.

  Ele precisou tomar um grande gole de café do seu velho copo térmico azul antes de tatear o banco do passageiro para alcançar de novo o celular. Os números eram digitados com pressa por dividir a atenção no trânsito. Chamando, chamando e nada. Só lhe restou a caixa postal.

  "Camila, onde você está? Quando pegar essa mensagem me ligue de volta.". Tentou disfarçar o nervosismo na mensagem, mas Camila saberia que era pura enganação. Mais um gole do café antes de estacionar o carro em fila dupla e descer do seu carro Corsa preto, que não devia ver uma lavagem há anos.

  Leonardo saiu do carro, respirou fundo e colocou sua jaqueta antes de acender um cigarro e caminhar até a faixa de isolamento onde se agrupava cinco policias e três viaturas. Um deles, o mais gordo e desengonçado correu na direção de Leonardo para lhe ajudar a puxar a fita e liberar a passagem.

  "Ferdinand, me atualiza do que está acontecendo.". Ambos continuaram a caminhar em direção a muvuca enquanto o gordo policial procurava seu bloco de notas. "Bom, Detetive Callomary, o que temos por enquanto é que foi um homicídio. Descartamos a possibilidade de suicídio pelo fato da vítima estar..."

  "Isso eu sei Ferdinand! Caso contrário não teriam me chamado e sim a porra do IML! Eu quero saber da vítima, estado em que ela se encontra vestígios..." Os olhos de Leonardo saltaram e o pescoço ficou avermelhado de raiva. Ferdinand começou a gaguejar e foi apenas isso que fez durante longos dez segundos. Leonardo tragou o cigarro para tentar se acalmar e desabafou em uma avalanche de fumaça "Desculpe Ferdinand, eu explodi de novo, é que minha filha não dá notícias e... Esquece, vou procurar o sargento lá em cima.".

  Ferdinand continuou a gaguejar enquanto Leonardo o deixava sozinho e andava até o prédio velho. O terceiro andar parecia ser mais longe do que em um prédio normal, talvez fosse por causa das escadas e não ter elevador. Eram poucos os vizinhos curiosos, a maioria deveria ser de drogados inconscientes que não perceberam a presença da polícia. Aquele bairro no Centro de São Paulo era infestado de pessoas dependentes de droga que não tinham para onde ir. Leonardo voltou a pegar o celular para ver se havia nova mensagem, mas teve outra frustração.

  Ao chegar ao andar, mais três policiais estavam na porta do apartamento e logo deram passagem para o detetive entrar. Estava praticamente vazio o local se não fosse um sofá todo rasgado e muito lixo no chão. As paredes estavam descascadas e pichadas. Um senhor de terno, alto e esguio, observava dois fotógrafos da perícia que tiravam fotos de todos os cantos do apartamento.

  "Ilumine-me Hugo. O que aconteceu aqui?" Leonardo deu a última tragada no cigarro antes de jogá-lo no chão e parar ao lado do senhor.

  Sargento Hugo virou-se para o detetive coçando a cabeça calva e grisalha. "Mulher, por volta de vinte ou vinte cinco anos. Nenhum documento, nada. O corpo deve estar aqui neste apartamento há algumas semanas. Os vizinhos se incomodaram com o cheiro e nos chamaram"

 “Pelo menos você já chamou a Polícia Científica e não deixou seus homens impregnarem o lugar.”

  “Não cuspa no prato que já comeu Leonardo. Você já foi da Polícia antes de seguir carreira... solo.”

  Baixando-se, Callomary olhou o chão todo arranhado. “E mesmo assim, vocês insistem em me chamar quando não conseguem resolver as coisas.”

  “Você pode ter suas loucuras, mas sabe o que faz garoto.”

  Callamary abriu um sorriso sarcástico e levantou-se. “Depois de toda essa bajulação você vai me convidar pra jantar ou tudo isso é só para eu resolver o seu caso e limpar sua barra?”

  “Imagino que você prefira comer suas comidas congeladas hoje em dia.”

  O detetive deu uma leve risada e olhou para o antigo amigo. “Hugo, eu não quero mais me envolver com crime, por isso preferi ajudar esposas traídas e procurar cachorros desaparecidos.”

  “Eu sei Leo, mas se eu não precisasse de sua ajuda não teria chamado. Isso é... fora de tudo o que jamais presenciamos. E eu tenho certeza que a Polícia poderá de dar uma boa gratificação. Está precisando de dinheiro e não adianta negar. Você sabe que posso fazer que a Tesouraria da Polícia lhe de uma recompensa maior do que a de costume.”

  Leonardo desviou o olhar, estalou o pescoço e adentrou ao quarto escuro acompanhado do sargento. "De quem é o apartamento?"

  "De um tal de Gustavo Vargas, um aposentado.".

  "E onde está Vargas?" Sem sucesso com o interruptor, Leonardo apelou para a lanterna do celular.

  "Morto há vinte anos. Sem sucessores, o local ficou jogado as traças para viciados e mendigos.".

  “Como eu amo o judiciário e sua burocracia.” Sarcasticamente Leonardo falou iluminado o ambiente.

  A luz do celular fixou-se ao chão e a expressão de Leonardo mudou de instigado para impressionado. O corpo já estava em decomposição, encostado na parede e de pernas esticadas com os pulsos presos em duas longas correntes enferrujadas, mas a jovem loira usava um vestido longo azul escuro, lindo e brilhante. O cabelo estava meticulosamente penteado e preso em uma tiara de falsos diamantes e um coque, mas o que chocara era outra coisa.

  Primeiramente o rosto estava literalmente amassado por algo que havia lhe acertado diversas vezes. Provavelmente muito pesado. A parte abdominal da vítima também havia sido esmagada e ao lado do corpo uma enorme abóbora de aço maciço, meticulosamente colocada ao lado do corpo. Os pés da moça haviam sido cortados e estavam cuidadosamente colocados do outro lado do corpo e ambos fincados com inúmeros pedaços de vidro. Dezenas de ratos se alimentavam da carne podre do cadáver e grandes pedaços de vidros estavam enfiados também nos olhos da jovem.

  "Mas que merda é essa?" Leonardo Callomary olhava abismado para a cena enquanto Hugo roubava um cigarro do maço do detetive.

  "Ainda não sabemos o motivo, mas já vinculamos com o caso da jovem que foi torturada, morta com uma maçã na goela.”

  “Eu vi esse caso nos noticiários mês passado.” Leonardo ainda encarava a jovem morta, incrédulo.

  “Chamamos o primeiro caso de Branca de Neve. Depois encontramos o coração da moça dentro de uma caixa de ferro que foi deixado na frente da nossa delegacia mês passado. As câmeras só registraram um homem encapuzado deixando a caixinha rapidamente nas escadarias."

  “A primeira vítima foi encontrada aonde?”

  “Um apartamento semelhante a esse, mas na Zona Leste da cidade.”

 "Já identificaram o homem encapuzado que o deixou a caixa?"

  "Ainda não..." Hugo acendeu o cigarro “... as câmeras de outros imóveis o seguiram até o festival de música naquele final de semana e depois o perdemos na multidão.”.

  “Quem era a primeira garota?”

  Hugo pegou sua caderneta, folheou algumas páginas e tragou o cigarro. “Yara Fagundes. Uma agente de publicidade. O noivo que fez o B.O do desaparecimento dela. Uma semana depois a encontramos.”

  “Suspeito de algo nele?”

  “Por enquanto não.” Hugo guardou a caderneta. “O melhor está por vir, Leo. A garota da sua frente é a atriz Pamela Schmitt.”

  “O quê? Você está de brincadeira comigo! A da novela?”

  “A própria. A emissora da novela não quis dizer as autoridades que a atriz havia sumido das gravações havia uma semana, com medo de perderem audiência. Pediram para a família não ir a público também, pois colocariam detetives particulares para busca-la. Mas a madrasta da jovem teve sua filha do primeiro casamento desaparecida também e não conseguiu suportar. Quatro dias depois de vir falar conosco recebeu um enorme jarro de barro com, pasme, carne ensopada no portão de sua casa. Ao fundo havia um crânio. Os exames de DNA revelaram que era da filha da madrasta. E agora isso...”

  Leonardo ficou tonto com tanta atrocidade. “Eu não gostava daquela porcaria de novela, mas...Deus! Já avisaram a família que encontraram Pamela?”

  “Não temos total certeza de ser ela, por isso ainda não. Mas todas as características estão batendo”.

  O detetive aproximou-se do corpo e tentou afastar alguns ratos com chutes.

  "O vestido é bem cuidado, foi lavado para tirar as manchas de sangue, mas não completamente, então descarte a ideia de ter sido colocado após a morte dela. Os cacos de vidro nos olhos..." Leonardo quase encostou seu rosto ao da jovem "....tem restos de sangue escorridos. Sem cortes nos contornos da cavidade. Foram furados depois."

  “E os pés?”

  "A coisa foi mais planejada. Olhe-os! Foram cerrados na altura certa e o toco das pernas foram cuidados. Não tem sinais de sangramento na ferida, possivelmente isso foi feito após a morte dela também. Esse louco parece curtir fazer uma cena chocante com suas vítimas.".

  “Chegamos a conclusão que este apartamento não foi o local da morte. Apenas é o palco desse maníaco, pois não há vestígios de nada por aqui. Idêntico ao caso Branca de Neve.”
  Leonardo suspirou e coçou a barba. “Algum vizinho viu algo suspeito?”

  “Esses drogados? Se viram, não irão falar nada para não criarem problemas para eles mesmos.”

  “Ratos!”

  “Concordo, são uns malditos ratos!” Hugo olhava o corpo com repulsa.

 "Não! Os ratos! Não são ratos de esgoto. São maiores e, pelo jeito, também famintos. Foram colocados de propósito aqui. Sem mencionar os pés colocados naquele canto cuidadosamente."

 "Eles também estão sem os calcanhares, mas enfim... Esse filho da puta fez um enorme cenário teatral aqui.".

  “Agora entende o porquê de querermos você aqui, Leonardo?”

 Callamary levantou-se e seguiu para a porta. “Você poderia ter me esquecido dessa vez Sargento.”

  Ambos saíram do quarto e Leonardo olhou Hugo. "Eu nunca vi algo assim. Pelo menos não tão... planejado.".

  "Quarenta anos na polícia e nem eu, Leo. Quando eu tiver alguma notícia eu volto a lhe informar, mas não se preocupe muito com isso. Eu pedi pra te chamarem em último caso, mas não me deram bola...".

  "Não se preocupe Hugo. Eu imagino que deve ter evitado ao máximo. Vou ver se encontro alguma semelhança com outros crimes, além do da Branca de Neve."

  "Confio em você, meu amigo. Você era um dos nossos melhores."

  "Duas mentiras em uma única frase Hugo. Fica feio um Sargento mentir assim."

   Hugo sorriu e pousou a mão no ombro magro de Leonardo. "E Camila, como está?"

  "Sumida, de novo..." Leonardo suspirou preocupado. "Adolescentes são piores que assassinos para se encontrarem."

  Hugo deu uma leve risada. "Posso acionar uma patrulha, se quiser.".

  "Não precisa. Daqui a pouco ela deve dar notícia de vida.". Leonardo passou a mão na nuca e deu as costas para o velho amigo.

  "Não pegue pesado com a garota Leo! Lembre-se que você já foi um moleque de dezenove anos.".

  "Exatamente Hugo! Eu já fui um filho da puta desses e sei o que fazíamos com garotas dessa idade também!"

  Leonardo deixou o lugar arrumando a jaqueta e contando os segundos para voltar ao carro e dar mais um grande gole no seu café frio.

  Entrou no carro e virou o café do copo térmico até a última gota. Arriscou mais uma olhada no celular esperançoso de ter notícias da filha, mas a garota realmente era um desapontamento.

  Pegou seu bloco de notas e escreveu na primeira folha em branco. “Caso Cinderela” e riscou uma linha embaixo. Mais uma manhã de merda na sua vida, e este já tinha lhe embrulhado o estômago.





André Bludeni



Você quer saber o que aconteceu antes? Entre nos links abaixo!


Branca de Neve



quinta-feira, 31 de março de 2016

A Assombração "Trenzinho Carreta Furacão"

  Contos, lendas urbanas, histórias de assombrações e acontecimentos sobrenaturais são coisas que sempre chamam a atenção de qualquer ouvinte ou leitor ao assunto, independente do conteúdo. A maioria das histórias obviamente são falsas e beiram o absurdo, mas recentemente uma onda de relatos de estranhos acontecimentos veem invadindo a internet no interior de São Paulo. Alguns são acompanhados por fotos e vídeos aterrorizando os mais curiosos.

  Em Ribeirão Preto, nas noites mais quentes de verão, o silêncio das ruas escuras presencia o que muitos chamam da coisa mais diabólica e satânica de todas: O TRENZINHO CARRETA FURACÃO!



   Primeiramente o silêncio é quebrado por um canto pagão e hipnotizante. Em vozes silvantes, a voz demoníaca repete inúmeras vezes a frase “Siga em Frente, Olhe para o lado! Se liga no Mestiço, na batida do cavaco!” ritmado em sons estridentes. O canto torna-se um ritual que invade todas as casas e comércios de luzes acessas deixando todos os moradores apavorados.

  Seguidamente, os relatos dizem que figuras humanoides dos piores confins do Inferno correm em velocidades impressionantes pelas calçadas apavorando crianças em adultos. São figuras coloridas, de cabeças grandes, olhos sem vidas, cabelos longos e chamativos. Alguns temem a dizer que personagens da cultura pop foram  inspirados nesses seres assombrosos (Popeye, Capitão América, Bem 10, Homem-Aranha, Mickey Mouse, Fofão,...).

  Estes demônios encarnados em corpos semi-humanos começam então a criar uma dança para o ritual de assombração. Neste momento, muitas pessoas já se evadiram por medo, mas alguns corajosos permanecem para relatarem os acontecimentos e provarem que tal assombração é verídica. Sobreviventes afirmam que as criaturas correm em torno das pessoas gritando, pulando e dando piruetas. Normalmente param em pontos específicos e efetuam movimentos sincronizados semelhantes a uma dança, que para especialistas é uma forma de expressarem seus ódios e intimidação pelos mortais. Alguns monstros mais antigos efetuam ações mais brutas, como escalar edificações, se pendurar em postes e pontes e até, pasmem, andar pelos muros!


  Algumas poucas criaturas foram destruídas através de próprios deslizes das assombrações, mas um caso ficou marcado com o herói anônimo que atropelou em sua bicicleta uma das criaturas que atacaria a casa de pobres pessoas indefesas.



  O pior do terror ainda vem por aí... O nome que antecede a assombração Carreta Furacão tem um propósito e esse é o veículo ( se assim podemos chamar) que acompanha as criaturas infernais. Trata-se de uma espécie de trenzinho, iluminado por luzes satânicas e que emite o canto do ritual. Este trem passa pelas ruas e vai sendo ocupado pelas almas dos que não conseguiram sobreviver à Assombração Carreta Furacão. Almas e mais almas são sugadas pelas criaturas horrendas através de sua dança e levadas até o trem. Após efetuarem todo o ritual diabólico, as criaturas juntam-se ao trem penduradas, e algumas mais audaciosas pulando pelas ruas e muros, até outro ponto onde novas vítimas possam ser consumidas.




  Ao longo de uma noite de puro terror, o Trenzinho da Carreta Furacão, some nas sombras da madrugada sem deixar vestígios. Ninguém sabe onde vivem como são invocados e quando irão retornar para aterrorizar os moradores novamente. Apenas se sabe que o Trenzinho Carreta Furacão não perdoa e não se intimida, pois até outros assombrações são atacadas pela Carreta Furacão, como mostra uma gravação onde criaturas da não tão conhecida Assombração Nave da Alegria.




  Estamos longe de entender os mistérios sórdidos da Carreta Furacão e como conseguiremos nos prevenir desses demônios alucinados que estão à solta. Até lá podemos apenas testemunhas cada vez mais cada atrocidade presente no interior de São Paulo.

  Alguns breves vídeos de sobreviventes deixei para os mais fortes assistirem neste texto. O vídeo a seguir mostra os acontecimentos mais assombrosos, então peço que, caso já tenha se impressionado com os vídeos anteriores, NÃO ASSISTA O PRÓXIMO VÍDEO! Contém cenas fortes não recomendadas para menores de 18 anos, grávidas, idosos, cardiácos e cachorros (?).








André Bludeni