segunda-feira, 3 de abril de 2017

Ele

Ele não era estranho... Era diferente. Todos os dias, as 8:30 da manhã, ele inventava de ir a uma padaria ao lado da sua casa, tomar café da manhã - era o melhor café da região. Sentava, cumprimentava todos que estavam por ali, fazendo o trabalho matinal de servir os clientes. Como de praxe, gostava de tratar bem os outros, levava a vida de uma maneira não tão igual ao que a sociedade pensa.

Ele fugia de descontroles e respostas vazias. Corria contra o tempo o dia inteiro, de manhã até à noite; talvez meia noite não seria problema chegar em casa a essa hora - talvez, se não sentisse exausto da vida que leva aqui. 

Você pode olhá-lo e nunca encontrar uma resposta ao certo do que ele pensa. Observa, interage, foca... Mas pouco dá liberdade a quem menos o importa. No telefone, falava seriamente com alguém, lamentando que não poderia fazer nada, tampouco se explicava. Era direto, sem rodeios, fazia de tudo pra que meios termos não chegassem a irritá-lo. Observava a solidão com uma frieza incrível, mas por dentro... Ah! Por dentro ele queimava. Mantinha escondido o que sentia, mas sentia muito. Sente, a propósito. Por ora, sente-se de saco cheio do vazio que transborda nesse caos que tem que conviver. 

Sua relação familiar sempre fora atrapalhada. Era o lado negro da família mas sabiam que ao certo, que podiam confiar nele. Era o único da família que mantinha a razão, a lógica e a conclusão em meio do caos. E ele sentia o caos. O caos penetrava seu corpo, queria invadir até sua mente, mas sabia que precisava manter-se equilibrado para não cair de vez. 

Alto, magro, e com uma carinha um pouco fechada; barba mal feita, sorriso de canto, cabelos meio que castanhos claros e que faziam questão de refletir o sol. Tem tanta vergonha de si que, nem dá pra acreditar. Tão bonito, mas talvez tão inseguro. 

Esses dias fiz o favor de envolver-me com ele. Como sempre fui na mesma padaria que ele, algo deve ter chamado a atenção entre nós. Aquelas conexões que a gente não imagina que pode acontecer. Minhas observações eram certeiras, tudo o que achei era daquele jeitinho. Repetindo, ele não sabe o quão bonito é. 

Dois corpos despidos tomam conta de certa forma, pra a união de um único sentimento. Não sei. Mas sempre achei que isso acontecera entre nós e, como sempre, sinto coisas além do que devo sentir. Se eu pudesse te explicar, talvez não entenderia, mas você tem uma forma tão bonita que por mais que eu desenhasse, explicasse e mostrasse, você não enxergaria e, se enxergasse, muita coisa mudaria. Seus olhos falam e conversam comigo sem ao menos abrir a boca; sua insanidade mistura com a minha. Sua loucura nem todo mundo entende, mas eu... eu até que entendo. Você não é cem por cento certo ou perfeito, nunca será. Mas de alguma forma você é bom no faz, no que olha, no que toca, no que conversa. Teu calor mostra que você está aqui não só pra existir, mas pra viver, por mais que mil coisas te faça cair. 

Você aí, eu aqui. Continuo na habilidade de observar e entender, como sempre fiz. Só não deixa que o cansaço rotineiro te invada e que te desvencilhe sua vontade de ser feliz.


Nathalie Tavares

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