Desde A Princesa e o Sapo, a realeza da Disney não é mais a mesma. As mocinhas deixaram o posto de donzela a ser resgatada e ganharam desfechos mais complexos do que o casamento com um príncipe encantado e batalharam pelos seus sonhos, como podemos ver em Frozen - Uma Aventura Congelante.
Outra moda que também deu certo no estúdio do camundongo foi a versão live-action de seus clássicos, mas com uma pitada mais....realista e com uma tendência feminista que ganhou ainda mais força. Alice se tornou uma guerreira toda montada na armadura e Aurora foi apresentada a outras formas de amor verdadeiro nas novas adaptações de No País das Maravilhas e A Bela Adormecida.
Na versão em carne e osso de Cinderela, porém, o roteirista Chris Weitz mantém o modo de contar a história como nos foi apresentado no desenho antigo. Na pele de Lily James, a Cinderela é tão bela, gentil e justa quanto a princesa da animação. A fantasia continua forte, apenas levemente redimensionada para o mundo real.
Com um cenário praticamente teatral, o longa nos leva a um "mundo perfeito" onde o príncipe tem dentes brancos e alinhados e animais compreendem os diálogos entre os humanos num toque de escape cômico. Falando sobre o figurino, todas as roupas foram construídas impecavelmente em tons bem coloridos, fiéis à animação e com grande "toque mágico".
O elenco é o componente mais importante nessa receita. James passa uma doçura calculada, que evita que a sua Cinderela se transforme em uma tola que conversa com os ratos da casa. Richard Madden é a encarnação do príncipe encantado, com uma ingenuidade corretamente ajustada para uma realidade de amores à primeira vista (ainda que não mais tão imediatos). A fada-madrinha de Helena Bonham Carter, longe da maternal versão animada, compensa pelo exagero nas suas expressões e gestos a falta da clássica Bibbidi-Bobbidi-Boo no momento da transformação da gata borralheira em princesa (no filme, a canção é apenas uma palavra mágica).
A atração principal, entretanto, é Cate Blanchett. Sua madrasta má tem o mesmo tom caricato e sombrio da versão animada dublada por Eleanor Audley. Seca e charmosa, foi levada à vilania pela incompetência das próprias filhas (as ótimas Sophie McShera e Holliday Grainger). Cinderela é tudo o que ela e seus frutos não são e Blanchett sabe com incorporar a inveja disfarçada de desprezo em cada cena, em cada olhar.
Cinderela é um filme que homeangeia a versão clássica e leva pouco do realismo atual para o púlbico, talvez pelo fato de Para Sempre Cinderela (EverAfter), a versão estrelada por Drew Barrymore em 1998, já ter brincado com a ideia de uma gata borralheira “realista”. Branagh entrega um filme redondo e competente, mas falta a “magia eterna" dos contos de fadas, o motivo para ver e rever a mesma história da mocinha apressada que deixa para trás um sapatinho de cristal.
André Bludeni





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