sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Você se Lembra?

   A mão treme, a boca se abre sorrateiramente para sair o suspiro de tristeza, os olhos se perdem na imensidão do dia a dia, mas sem enxergar absolutamente nada. Nada está  mais a frente.

  O que era colorido, vivo, alegre, vermelho sangue, tornou-se abatido, cinza e frio. A vontade de gritar seu nome, procurando-lhe em cada canto, cresce mais e mais dentro do meu peito. Um grito que não vai ter resposta. Não que será omitido, não escutado, mas que agora é proibido, pactuado, em uma distância necessária. Uma distância que salvará. Será? Salvará mesmo?

  A ideia que tenho é de que estávamos presos no meio do oceano aberto, sem vista para uma salvação, cada vez mais nos afundando e nossa única chance era nos soltarmos para tentarmos viver. Mas agora que te perdi de vista não sei se te reencontrarei de novo. Não sei nem ao menos se encontrarei a praia.

  Cada memória, cada lembrança. Eram horas e horas da madrugada apenas nos olhando no escuro, deitados e em silêncio. Apenas os nossos olhos mexiam e a boca sorria. Horas e horas admirando nossas imagens interrompidas por um leve acariciar no cabelo. Você se lembra?

  Você se lembra das nossas discussões dentro do carro que sempre acabavam com nossa música tocando e nós rindo? Lembra-se dos soluços sem fim que faziam nossas noites serem as mais divertidas de todas?

  Você se lembra das nossas aventuras andando pelas ruas da cidade, no calor, procurando o que fazer, sem rumo, mas nos divertindo exatamente por estarmos sem um destino final? Era tão ingênuo, tão puro, tão... Simples.

  Eu me lembro das suas gargalhadas exageradas e verdadeiras. Lembro-me do jeito que sempre se aconchegava no meu peito, procurando meu corpo, antes de adormecer toda noite. Lembro-me também do jeito que me olhava brava, mas doida para cair na risada quando eu fazia inúmeras palhaçadas simplesmente para ver você sorrindo mais um segundo. Você se lembra?

  Seu jeito estabanado, humilde, grosseiro e até as vezes irritante de lidar com as coisas. Eu me lembro de tudo isso. Todas essas frações de histórias estão guardadas na minha mente e agora martelam a cada segundo dentro de mim.

  Meu medo é agora é acabar tudo isso. Preferir nadar nesse oceano e encontrar uma praia diferente da minha. Meu medo é você desistir de nadar ao meu lado, mesmo que tenhamos que dar algumas braçadas longe um do outro. Meu medo é que nossos defeitos nos impossibilitem de ficarmos mais algumas noites nos admirando em silêncio no escuro.

  Meu medo agora é você me esquecer. Não lembrar mais como sou, do que gosto, ou o que vivemos. Esquecer nossos gostos, nossas memórias, nossa história. Esquecer-me.

  Você se lembra de mim?



André Bludeni

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