O que era colorido,
vivo, alegre, vermelho sangue, tornou-se abatido, cinza e frio. A vontade de
gritar seu nome, procurando-lhe em cada canto, cresce mais e mais dentro do meu
peito. Um grito que não vai ter resposta. Não que será omitido, não escutado,
mas que agora é proibido, pactuado, em uma distância necessária. Uma distância
que salvará. Será? Salvará mesmo?
A ideia que tenho é
de que estávamos presos no meio do oceano aberto, sem vista para uma salvação,
cada vez mais nos afundando e nossa única chance era nos soltarmos para
tentarmos viver. Mas agora que te perdi de vista não sei se te reencontrarei de
novo. Não sei nem ao menos se encontrarei a praia.
Cada memória, cada lembrança.
Eram horas e horas da madrugada apenas nos olhando no escuro, deitados e em
silêncio. Apenas os nossos olhos mexiam e a boca sorria. Horas e horas
admirando nossas imagens interrompidas por um leve acariciar no cabelo. Você se
lembra?
Você se lembra das
nossas discussões dentro do carro que sempre acabavam com nossa música tocando
e nós rindo? Lembra-se dos soluços sem fim que faziam nossas noites serem as
mais divertidas de todas?
Você se lembra das
nossas aventuras andando pelas ruas da cidade, no calor, procurando o que
fazer, sem rumo, mas nos divertindo exatamente por estarmos sem um destino
final? Era tão ingênuo, tão puro, tão... Simples.
Eu me lembro das
suas gargalhadas exageradas e verdadeiras. Lembro-me do jeito que sempre se
aconchegava no meu peito, procurando meu corpo, antes de adormecer toda noite.
Lembro-me também do jeito que me olhava brava, mas doida para cair na risada
quando eu fazia inúmeras palhaçadas simplesmente para ver você sorrindo mais um
segundo. Você se lembra?
Seu jeito
estabanado, humilde, grosseiro e até as vezes irritante de lidar com as coisas.
Eu me lembro de tudo isso. Todas essas frações de histórias estão guardadas na
minha mente e agora martelam a cada segundo dentro de mim.
Meu medo é agora é
acabar tudo isso. Preferir nadar nesse oceano e encontrar uma praia diferente da
minha. Meu medo é você desistir de nadar ao meu lado, mesmo que tenhamos que
dar algumas braçadas longe um do outro. Meu medo é que nossos defeitos nos
impossibilitem de ficarmos mais algumas noites nos admirando em silêncio no
escuro.
Meu medo agora é
você me esquecer. Não lembrar mais como sou, do que gosto, ou o que vivemos.
Esquecer nossos gostos, nossas memórias, nossa história. Esquecer-me.
Você se lembra de
mim?
André Bludeni

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