terça-feira, 16 de setembro de 2014

De Tudo Um Pouco: Qual a verdadeira necessidade dos Novos 52?

 Em maio de 2011 a DC lançava nos Estados Unidos a saga Flashpoint, esse seria o seu Blockbuster de verão.

 A sinopse de Flashpoint (ou Ponto de Ignição como foi chamado do Brasil)é a seguinte,. Barry Allen (Flash) acorda em seu escritório e descobre que as coisas estão diferentes: ele se vê sem seus poderes, descobre que sua mãe ainda está viva, e que o mundo está em guerra. Desnorteado, vai em busca da Liga da Justiça, mas fica surpreso ao descobrir que eles não existem. Ao se perceber numa realidade paralela ele consegue descobrir que Batman ainda existe e, então, parte em busca do amigo, tentando conseguir ajuda, mas para sua surpresa ele não é Bruce Wayne. Barry também descobre que o Professor "Zoom", vulgo "Flash Reverso", estava envolvido em tudo e inicia-se assim a cruzada de Barry para tentar retornar ao seu mundo ou, pelo menos, salvar este.

 Mas qual a verdadeira importância dessa saga que não fez dela mais um dos mega crossovers de verão, tão habituais para DC e Marvel?

 A diferença é que Flashpoint serviu de base para o que veio a ser o Relaunch da DC, que na verdade, Dan Didio (editor-chefe da DC), gostaria de ter feito após a saga Crise Final, mas que foi adiado graças a Grant Morrison e Geoff Johns. A série que foca em um presente alternativo dos personagens, tem como protagonista o Flash Barry Allen, que retornara um pouco antes da Crise Final trazido, aliás pelo próprio Geoff Johns. Flashpoint alardeava desde seu principio que as coisas não seriam as mesmas, afinal o seu principal slogan era "Tudo Vai Mudar". E realmente, ao final da série, em setembro de 2011 TUDO MUDOU, ou quase...

 Uma coisa tem de ficar clara desde o princípio, quadrinhos são um negócio, ou seja, a função deles é gerar lucros. Ah! Mas eles são a 9ª arte! Dane-se ainda sendo arte eles tem de dar dinheiro.

 E é a partir disso que surge o verdadeiro motivo para os Novos 52. A DC vinha há muitos anos perdendo espaço de mercado para sua principal rival, a Marvel, sendo que o único personagem da DC que era sucesso de vendas, sendo quase sempre a revista em quadrinhos mais vendida nos Estados Unidos era o Batman de Grant Morrison, o que era curioso, pois do TOP 10 de vendas ele normalmente ficava em 1º, e as outras nove posições eram ocupadas pelos personagens da Marvel. Dessa forma, a DC (que para quem não sabe, pertence a Warner Bros.) precisava se tornar relevante novamente, ou seja, precisava fazer seus demais personagens venderem quadrinhos também, e dessa forma recuperar um bom pedaço da fatia do bolo, que cada vez mais ficava nas mãos da Marvel.






 A saída encontrada para isso, através da brilhante (só que não) mente de Dan Didio e Diane Nelson (presidente da DC Entertainment – braço executivo da DC/Warner) foi que o Reboot de seus quadrinhos. Pois para eles o verdadeiro motivo para as baixas vendas não tinha nada a ver com a qualidade das histórias contadas, e sim porque o público não se arriscaria a entrar no universo quadrinístico devido a dificuldade de anos de cronologia. Então a proposta seria a seguinte: os míticos personagens da DC seriam rejuvenescidos, suas histórias zeradas e eles seriam restabelecidos de uma nova forma. Sendo que todos os personagens seriam tratados em seu início de carreira. Até aí tudo bem, ousado pacas, mas seria interessante ver o Superman jovem, solteiro e “aprendendo” a ser herói, ao invés do ícone que ele é. Saber como se deu a formação da Liga da Justiça. Acompanhar Diana vindo para a terra do patriarcado, o Flash ganhando e aprendendo a usar seus poderes. Aquaman surgindo dos mares, Hal Jordan recebendo seu Anel Energético, Batman no começo de carreira, antes dos Robins... OPA! ESPERA AÍ! Vamos revisar: Superman jovem (OK!), Diana vindo para a terra do patriarcado (+ou- OK), o Flash ganhando e aprendendo a usar seus poderes (+ou- OK também), Aquaman, Hal Jordan e Batman no começo de carreiras (NÃO), todos já estavam estabelecidos, nada da cronologia anterior desses três deveria ser desconsiderada. Poxa, mas o problema não era a cronologia? Pois é, e eles conseguiram deixar as coisas ainda MAIS COMPLICADAS. Afinal foi um reboot que valeu para alguns, mas que foi mais ou menos para outros, e para Lanterna Verde e Batman, praticamente não existiram.

 Tentaram fazer explicações toscas, de que tudo para os dois acontecera em cinco anos. Ou então que eram vigilantes mais experientes. E daí, começou a acontecer o seguinte para os leitores, tantos novos quanto os antigos. O que pode ser considerado ou não? A bem da verdade, ninguém sabe dizer com certeza. Superman pode (ou não) ter morrido e retornado. Bárbara Gordon (Batgirl) foi aleijada pelo Coringa e recuperou o poder de andar em 3 anos. Em apenas 5 (CINCO) anos, Batman teve 4 (QUATRO) Robins, Dick Grayson o 1º, que virou Asa Noturna, foi Batman também por um período, e voltou a ser Asa Noturna, e agora é agente secreto (mas isso é assunto para outro post), Jason Todd o 2º, que foi morto pelo Coringa, retornou, foi treinado por uma seita, e se tornou Capuz Vermelho, Tim Drake o 3º que descobriu a identidade do Batman, evoluir para Robin Vermelho e é líder dos Novos Titãs (uma curiosidade e assunto para outro post futuro, eles são Novos Titãs, sendo que nos Novos 52 não existiram os “velhos” Titãs), e finalmente Damian Wayne o 4º Robin, que é o filho de Batman com Tália Al’Ghul, um moleque de 12 anos, que teria sido concebido com Bruce já como Batman (detalhe que ele teoricamente nesses novos 52 tem 10 anos de carreira). Tudo bem são quadrinhos, a gente aceita que o cara pode voar, o outro recebeu um anel energético, o outro pode falar com os peixes, etc. e tal. Mas algumas coisas também já é forçar demais a amizade. É querer subestimar a inteligência e a boa vontade do leitor.




 Bom, mas continuando, afinal, o título do post é uma pergunta e pretendo respondê-la.

 Os Novos 52 não foram de todo o mal, há a grande sacada do lançamento de 52 novos títulos, coisas muito boas, coisas ruins também, mas ainda assim houve a ousadia de lançar um título sobre guerra, sobre faroeste. Houve também, finalmente, a integração do universo Wildstorm. Porém tudo isso poderia ter acontecido sem o Relaunch, sem os novos 52, bastasse a DC investir em bons escritores, editores e desenhistas. Histórias coesas de um Universo DC integrado e que conversasse entre ele como um todo. Tanto é, que os principais sucessos dos Novos 52 são de personagens que não tiveram suas histórias zeradas, ou seja, Aquaman, Lanterna Verde, esses dois pelas mãos do talentosíssimo Geoff Johns e Batman, sob a batuta do gênio louco Grant Morrison e Scott Snyder, interessante notar que os dois primeiros (Johns e Morrison) sempre foram contra o Relaunch, Snyder eu não sei, pretendo perguntar no Comic Com Experience.

 Mas Alê, você começou perguntando qual a verdadeira necessidade dos Novos 52, e ainda não respondeu. A Verdadeira necessidade não há, essa é a verdade. Ele surgiu para fazer barulho e vender mais quadrinhos. Inicialmente, a DC se tornou relevante novamente, a fatia do bolo ficou igualada com a Marvel e muitas vezes ela até fica com uma fatia maior. Mas na verdade, verdade mesma, tanto em termos artísticos, financeiros, não havia a necessidade do Relaunch. O que havia, era a necessidade de melhorar a qualidade das histórias, para que elas se tornassem interessantes para quem lesse. E sinceramente, isso nem sempre vem acontecendo, com ou sem Relaunch.





Alexandre Araújo

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