segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Vindo do Outro Lado



Olá, através deste texto pretendo passar uma mensagem de carinho e amor. Essa é uma história que presenciei e vivi. 
 Meu nome é Saulo e eu participei de varias épocas diferentes do seu mundo, passei por impérios e por castelos, quedas de dinastias e surgimento de novas ideias. Agora estou do outro lado zelando por aqueles que como eu, cometeram e cometem erros, mas estou aqui para tentar ajuda-los a sempre melhorar e seguir o caminho da evolução.

 Vou contar uma história sobre uma das minhas vidas passadas, em uma época de castelos, onde hoje se localiza a china. Eu era um trabalhador numa pequena vila que plantava arroz para sobreviver, assim como todas as vilas próximas. Plantávamos para podermos passar o inverno com comida em nossas barrigas. Nasci e cresci nessa vila a minha vida toda, mas sempre que podia andava nos arredores para descobrir terras, era minha escapada, meu tempo sozinho para pensar. 

 Mesmo jovem com meus 20 e poucos anos, já estava prometido para uma garota de minha vila, logo nos casaríamos e então não poderia ver o mundo, ver toda sua vastidão que eu queria desbravar, mesmo sabendo que a vida não era só aquele campo de arroz e aquela vila com as mesmas pessoas todo dia.

 Conforme foi chegando perto do casamento fui ficando aflito, procurei então um sábio que residia num templo próximo de nossa vila. O sábio sempre nos visitava quando tinha um tempo. Logo que o encontrei vomitei palavras para ele e rapidamente o monge levantou a mão fazendo um gesto para eu parar. Não disse nada, esperou eu me calar e me acalmar e então disse:

 "Porque a pressa meu amigo, acalme-se e vamos conversar, mas organize as ideias em sua cabeça. A melhor forma de organizar o pensamento é adotar o silencio como amiga e a paciência como mãe."

Dizendo isso ele se virou e saiu andando em direção da sala central do templo. Eu o segui até a sala cheia de velas e imagens de deuses.  Quando entrou fez um gesto para eu me sentar logo à frente do que seria o meio do templo, disse que eu deveria ficar ali o quanto tivesse vontade, mas que tentasse organizar os pensamentos através do silencio e da meditação interna. Depois disso se virou e foi embora para seguir seus afazeres.

 Sentei-me no centro e comecei a pensar porque tinha ido lá e qual era o meu problema realmente. Nesse primeiro dia me aguentei por apenas alguns minutos e fui embora. O velho monge estava na porta do templo e apenas me cumprimentou com uma balançada da cabeça. Fui embora para casa pensativo, mas sem respostas, então resolvi que voltaria todos os dias que pudesse para fazer o que o monge havia me instruído.

 Dia após dia eu ia até o templo e meditava em silencio. Todos os dias eu ficava mais tempo que o dia anterior. Ao final de um mês estava permanecendo em meditação uma hora sem perceber. Foi quando o monge chegou para mim e perguntou:

 "Jovem qual era mesmo seu problema naquele dia que chegou aflito e afobado?"

Eu vasculhei minha mente e percebi que já não lembrava mais algumas coisas que estava preocupado e sim o real problema que estava me atormentando.
O velho continuou:

 "Sei que vai se casar logo e está com medo, mas todas as coisas desconhecidas dão medo e mesmo assim, você deve seguir em frente para supera-los e viver uma vida plena."

 Naquele momento entendi o que o monge tentava me ensinar. Mesmo que meus problemas parecessem gigantes, o real problema se escondia atrás de outros que coloquei na frente sem perceber. Estava realmente com medo da vida a dois e me estabelecer em um único lugar, era assustador para mim que queria andar por ai e conhecer novos rostos, culturas e paisagens.
Perguntei, então, para o monge se poderia ajudar conversando comigo:

 "O senhor poderia me ajudar com esse medo? Está me consumindo por dentro e não me deixa pensar em outra coisa."

 "Jovem você deve seguir seu coração e tentar viver o que ele pede para você. Se deve ou não casar, não sou eu quem deve lhe dizer, mas siga seus instintos que eles o levarão onde deseja."

 Agradeci o monge pelas palavras e voltei para casa pensando como iria escutar meu coração e o que ele desejava. Passei a noite em claro e não conseguia decidir o que fazer.
Quando estava para raiar o novo dia, sai de casa e fui andar pelos arredores da vila. Quando o sol estava brilhando, soltando seus primeiros raios de luz, me deparei com uma mulher logo a frente de onde eu estava. Olhando para o horizonte e sendo banhada pelo sol da manha. Aproximei-me e percebi que era a mulher que eu deveria me casar. Cumprimentei-a  e começamos a conversar sobre o casamento e o porquê de nós estarmos ali.

 Descobri que como eu, ela gostava de andar e descobrir novos locais. Descobri que ela também estava com medo e não sabia como agir. Quando ela falou isso, abri um sorriso e falei que me sentia da mesma maneira. Quando o sol já estava alto e a conversa bastante longa, decidimos voltar para casa e tentar dormir um pouco. Naquele dia, depois de muito tempo, consegui dormir com um sorriso no rosto e muito feliz.

 No dia seguinte na primeira chance que tive, fui visitar o monge em seu templo para agradecer os conselhos e contar as novidades. Chegando lá, o monge, imediatamente ao me ver,  disse que eu tinha encontrado a solução do problema e que deveria seguir o que o coração estava mandando naquele momento. Agradeci por tudo e voltei para casa, juntei as poucas coisas que tinha e fui me encontrar com a mulher que deveria me casar. Resolvi propor uma fuga antes do casamento para ver até onde conseguíamos chegar longe de casa, ela aceitou, juntou suas coisas e partimos. Nessa fuga nos conhecemos e vimos que não estávamos mais com medo de ficar juntos, porque a companhia um do outro era muito gostosa. Após uma semana juntos e bem longe de tudo que conhecíamos, resolvemos voltar, casar-nos e morar em nossa vila, mas prometemos que sempre daríamos uma escapadinha para explorar lugares novos.

 O medo se foi, o casamento foi lindo, tivemos filhos e conhecemos, viajando com a família, muitas cidades. Eu nunca deixei de pensar no velho monge, e resolvi um dia visita-lo. Chegando ao templo não o encontrei e resolvi procura-lo mais. Outros monges disseram que ele havia falecido poucos dias antes, mas que tinha deixado uma carta para mim. Fiquei curioso, recebi a carta e logo abri para saber do que se tratava. A carta era pequena e simples com algumas linhas apenas.
Na carta estava escrito:

 "Meu jovem, como você, eu também tinha vontade de conhecer lugares e andar pela terra. Andei e percorri com a minha companheira muitos e muitos lugares. Ela faleceu quando eu estava fora de casa andando por ai. Voltei e me culpei por não estar lá para ser a ultima visão dela, então vim para cá como você com problemas procurando um conselho e aqui fiquei. Mesmo em meu leito de morte ainda me sinto culpado. Não repita os erros que eu cometi, esteja sempre presente para sua família.”

 Mostrei a carta para minha esposa e contei toda a história, prometendo não fazer nunca isso com ela. Alguns anos depois veio a falecer comigo ao seu lado e suas ultimas palavras foram:
-Assim como você me acompanhou nesse momento, eu vou acompanha-lo até estarmos juntos novamente.
Quando eu faleci, lá estava ela me esperando e até hoje permanecemos juntos.





Psicografado por Gabriel Crespi


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