Olá, através deste texto pretendo passar uma mensagem de
carinho e amor. Essa é uma história que presenciei e vivi.
Meu nome é Saulo e
eu participei de varias épocas diferentes do seu mundo, passei por impérios e
por castelos, quedas de dinastias e surgimento de novas ideias. Agora estou do
outro lado zelando por aqueles que como eu, cometeram e cometem erros, mas
estou aqui para tentar ajuda-los a sempre melhorar e seguir o caminho da
evolução.
Vou contar uma história sobre uma das minhas vidas passadas,
em uma época de castelos, onde hoje se localiza a china. Eu era um trabalhador
numa pequena vila que plantava arroz para sobreviver, assim como todas as vilas
próximas. Plantávamos para podermos passar o inverno com comida em nossas
barrigas. Nasci e cresci nessa vila a minha vida toda, mas sempre que podia
andava nos arredores para descobrir terras, era minha escapada, meu tempo
sozinho para pensar.
Mesmo jovem com meus 20 e poucos anos, já estava prometido
para uma garota de minha vila, logo nos casaríamos e então não poderia ver o
mundo, ver toda sua vastidão que eu queria desbravar, mesmo sabendo que a vida não era
só aquele campo de arroz e aquela vila com as mesmas pessoas todo dia.
Conforme foi chegando perto do casamento fui ficando aflito,
procurei então um sábio que residia num templo próximo de nossa vila. O sábio sempre
nos visitava quando tinha um tempo. Logo que o encontrei vomitei palavras para
ele e rapidamente o monge levantou a mão fazendo um gesto para eu parar. Não
disse nada, esperou eu me calar e me acalmar e então disse:
"Porque a pressa meu amigo, acalme-se e vamos conversar, mas
organize as ideias em sua cabeça. A melhor forma de organizar o pensamento é
adotar o silencio como amiga e a paciência como mãe."
Dizendo isso ele se virou e saiu andando em direção da sala
central do templo. Eu o segui até a sala cheia de velas e imagens de
deuses. Quando entrou fez um gesto para
eu me sentar logo à frente do que seria o meio do templo, disse que eu deveria
ficar ali o quanto tivesse vontade, mas que tentasse organizar os pensamentos
através do silencio e da meditação interna. Depois disso se virou e foi embora
para seguir seus afazeres.
Sentei-me no centro e comecei a pensar porque tinha ido lá e
qual era o meu problema realmente. Nesse primeiro dia me aguentei por apenas
alguns minutos e fui embora. O velho monge estava na porta do templo e apenas
me cumprimentou com uma balançada da cabeça. Fui embora para casa pensativo,
mas sem respostas, então resolvi que voltaria todos os dias que pudesse para
fazer o que o monge havia me instruído.
Dia após dia eu ia até o templo e meditava em silencio. Todos
os dias eu ficava mais tempo que o dia anterior. Ao final de um mês estava
permanecendo em meditação uma hora sem perceber. Foi quando o monge chegou para
mim e perguntou:
"Jovem qual era mesmo seu problema naquele dia que chegou
aflito e afobado?"
Eu vasculhei minha mente e percebi que já não lembrava mais
algumas coisas que estava preocupado e sim o real problema que estava me
atormentando.
O velho continuou:
"Sei que vai se casar logo e está com medo, mas todas as
coisas desconhecidas dão medo e mesmo assim, você deve seguir em frente para
supera-los e viver uma vida plena."
Naquele momento entendi o que o monge tentava me ensinar.
Mesmo que meus problemas parecessem gigantes, o real problema se escondia atrás
de outros que coloquei na frente sem perceber. Estava realmente com medo da
vida a dois e me estabelecer em um único lugar, era assustador para mim que
queria andar por ai e conhecer novos rostos, culturas e paisagens.
Perguntei, então, para o monge se poderia ajudar
conversando comigo:
"O senhor poderia me ajudar com esse medo? Está me
consumindo por dentro e não me deixa pensar em outra coisa."
"Jovem você deve seguir seu coração e tentar viver o que ele
pede para você. Se deve ou não casar, não sou eu quem deve lhe dizer, mas siga
seus instintos que eles o levarão onde deseja."
Agradeci o monge pelas palavras e voltei para casa pensando
como iria escutar meu coração e o que ele desejava. Passei a noite em claro e
não conseguia decidir o que fazer.
Quando estava para raiar o novo dia, sai de casa e fui andar pelos
arredores da vila. Quando o sol estava brilhando, soltando seus primeiros raios
de luz, me deparei com uma mulher logo a frente de onde eu estava. Olhando para
o horizonte e sendo banhada pelo sol da manha. Aproximei-me e percebi que era a
mulher que eu deveria me casar. Cumprimentei-a e começamos a conversar sobre o casamento e o porquê
de nós estarmos ali.
Descobri que como eu, ela gostava de andar e descobrir novos
locais. Descobri que ela também estava com medo e não sabia como agir. Quando
ela falou isso, abri um sorriso e falei que me sentia da mesma maneira. Quando
o sol já estava alto e a conversa bastante longa, decidimos voltar para casa e
tentar dormir um pouco. Naquele dia, depois de muito tempo, consegui dormir com
um sorriso no rosto e muito feliz.
No dia seguinte na primeira chance que tive, fui visitar o
monge em seu templo para agradecer os conselhos e contar as novidades. Chegando
lá, o monge, imediatamente ao me ver, disse que eu tinha encontrado a solução
do problema e que deveria seguir o que o
coração estava mandando naquele momento. Agradeci por tudo e voltei para casa, juntei as poucas
coisas que tinha e fui me encontrar com a mulher que deveria me casar. Resolvi
propor uma fuga antes do casamento para ver até onde conseguíamos chegar longe
de casa, ela aceitou, juntou suas coisas e partimos. Nessa fuga nos conhecemos
e vimos que não estávamos mais com medo de ficar juntos, porque a companhia um
do outro era muito gostosa. Após uma semana juntos e bem longe de tudo que
conhecíamos, resolvemos voltar, casar-nos e morar em nossa vila, mas prometemos
que sempre daríamos uma escapadinha para explorar lugares novos.
O medo se foi, o casamento foi lindo, tivemos filhos e
conhecemos, viajando com a família, muitas cidades. Eu nunca deixei de pensar
no velho monge, e resolvi um dia visita-lo. Chegando ao templo não o encontrei
e resolvi procura-lo mais. Outros monges disseram que ele havia falecido poucos dias
antes, mas que tinha deixado uma carta para mim. Fiquei curioso, recebi a carta
e logo abri para saber do que se tratava. A carta era pequena e simples com
algumas linhas apenas.
Na carta estava escrito:
"Meu jovem, como você, eu também tinha vontade de conhecer
lugares e andar pela terra. Andei e percorri com a minha companheira muitos e muitos lugares. Ela faleceu quando eu estava fora de casa andando por ai. Voltei e me
culpei por não estar lá para ser a ultima visão dela, então vim para cá como
você com problemas procurando um conselho e aqui fiquei. Mesmo em meu leito de
morte ainda me sinto culpado. Não repita os erros que eu cometi, esteja sempre
presente para sua família.”
Mostrei a carta para minha esposa e contei toda a história,
prometendo não fazer nunca isso com ela. Alguns anos depois veio a falecer
comigo ao seu lado e suas ultimas palavras foram:
-Assim como você me acompanhou nesse momento, eu vou
acompanha-lo até estarmos juntos novamente.
Quando eu faleci, lá estava ela me esperando e até hoje
permanecemos juntos.
Psicografado por Gabriel Crespi

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