quarta-feira, 29 de abril de 2015

Branca de Neve (+18)

  Aos poucos ela foi abrindo os olhos e voltando a consciência. O olho direito não se abria, mas isso não fazia tanta diferença já que o quarto era praticamente um breu total. O desespero começou a bater na sua mente e as lágrimas a escorrerem do olho que conseguia abrir. A calma não conseguia tomar conta do medo e aflição que ela sentia. O rosto no lado esquerdo ardia como fogo e ela tinha certeza que todo esse lado de sua face estava bem inchado dos murros que recebera ao longo das horas. 

  As péssimas e horrendas memórias começavam a voltar a sua mente. Não conseguia se lembrar bem como chegou naquele quarto fétido e escuro, mas lembrava-se da figura que a algemara no canto do quarto junto ao cano quebrado que lhe cortou o braço mais de quatro vezes. 

  O cheiro do lugar era uma mistura de fezes e mofo. Já perdera a noção de quantas horas estava lá, mas poderia chutar em torno de umas dezoito. Nas dez primeiras foi socada e bicada por aquele monstro diversas vezes. Ele urrava e grunhia a cada golpe, e ela perdia aos poucos os sentidos, mas ele nunca a deixava desmaiar.

  Ela não entendia exatamente o por quê daquilo estar acontecendo. Sempre fora uma pessoa muito trabalhadora, dedicada e bondosa. Agente de publicidade, ainda morava com os pais por estar apenas noiva, mas os tratava como nenhum filho fazia. Amava-os com toda a vontade que poderia ter, e não era para menos, já que os sentimentos eram recíprocos pela princesinha da casa. Sempre fora a garota mais linda de todos os lugares que frequentava. Alta, de corpo cheio de curvas, olhos verdes como safiras e cabelos negros como a noite. Mas agora ela olhava para o chão empoeirado e via suas madeixas negras espalhadas pelas tábuas de madeiras encardidas. O choro não se cessava.

  O que ela teria feito para merecer tudo aquilo? A lembrança das últimas horas lhe vieram a cabeça e agora entendia o motivo de ter apagado. Aquele mostro lhe quebrara as pernas na altura dos joelhos. Foram severas pisadas nas finas pernas até ela cair desmaiada de tanta dor. Agora ela olhava para baixo e apenas via troncos finos e quebrados ao meio, que uma vez já foram suas pernas. A dor já havia passado, talvez por tentar não mexe-las, talvez por também não conseguir fazer isso.

  O rosto deformado, os cabelos arrancados e as pernas quebradas. Ela não enxergava possibilidades de fugir. o diálogo com a horrenda figura não adiantou nenhuma vez, exatamente como os gritos e choros de desespero. Ninguém estava lá para acudi-la. Precisava manter a calma.

  Talvez ela tivesse conseguido esfriar a cabeça se o barulho da chave destrancando a porta não tivesse acontecido. o desespero e o choro vieram repentinamente, junto com a medonha figura que entrava. Seu torturador era muito alto e largo. Não gordo, mas muito forte. Andava rastejando as pernas e encurvado, parecendo um enorme urso cansado. Ela apenas conseguia gemer alguns "Por favor, por favor..." entre os choros, lágrimas e babas, mas o mosntro não lhe dava ouvidos. Ele continuava a se rastejar e a grunhir a cada respiração. Sim, ele respirava grunhindo, com dificuldade. Por mais que ela tentasse enxergar mais características da figura, a falta de um olho e a escuridão não lhe permitiam ter sucesso.

  "Eu não sei o que eu fiz, mas me desculpe. Nós podemos resolver isso. Você não precisa continuar a fazer essas coisas." Ele se curvou mais, do outro lado do quarto, como se estivesse procurando algo. Jogava objetos para o alto e a ignorava por completo. "Eu juro que não contarei para ninguém sobre isso, sobre você! Por favor!". Mais grunhidos e objetos caindo. "Eu só quero ver meus pais e meu noivo novamente.". Agora os sons animalescos da figura se misturavam com o choro de desespero da jovem moça.

  Os objetos pararam de ser arremessados e em questão de segundos um enorme objeto começou a ser arrastado pelo monstro em direção a moça. "O que é isso? Aí meu deus, o que é isso? Por favor, meu pai tem dinheiro. Nós podemos resolver isso de outra maneira. Por favor."

  O caixão era arrastado com muita facilidade pela figura. Era um caixão pequeno, talvez para criança, mas mesmo assim a figura a puxava com uma única mão. "Não! Por favor, não! Eu faço o que você quiser! Não!". Agora a última coisa que ela conseguia ter era calma. O desespero e o medo a consumiram por completo! Havia um caixão vazio à sua frente.

 A enorme figura se aproximava enquanto ela se debatia, mas ele a conteve com mais facilidade do que uma pessoa segurava um filhote de cachorro. Ela tentou lhe morder o braço, mas o golpe que ele lhe deu na cabeça contra a parede a fez ficar mais zonza do que já estava.

  As roupas lhe foram tiradas com delicadeza. Ainda estava tonta e o choro foi a única coisa que conseguia fazer como reação. Aos poucos sentiu-se ser vestida em uma roupa diferente. A sensação do tecido novo na pele era curiosamente confortante, já que suas antigas roupas, além de rasgadas, estavam sujas de sangue e urina. Quando se deu conta, já tinha sido colocada com carinho dentro do caixão vestindo um lindo vestido amarelo com detalhes em azul turquesa.

  Ao perceber que o monstro lhe observava, ainda respirando com dificuldade, ela voltou a chorar mais alto pedindo clemência. Pela primeira vez ela viu sua mão. Era duas vezes maior que seu rosto, pálida, cheia de cicatrizes. Os dedos eram grossos, longos, com unhas compridas e pontiagudas. Realmente aquilo não era uma figura humana, mas ele a tocava as bochechas com cuidado, delicadeza e carinho. A alisava as bochechas com as costas da mão fria e fazia um som que ela imaginava ser para acalma-la. Preferiu não contraria-lo. Tentava engolir o choro e voltar a dialogar. "Você não precisa fazer isso". Ele colocava as pernas quebradas da moça para dentro do caixão dobradas para o lado. O desgraçado as havia quebrado na altura certa para ela caber dentro da caixa de madeira.

  "Escute-me, você pode fazer a coisa certa! Você pode me deixar ir embora. Você só precisa de ajuda e eu quero te ajudar. Eu sei que é isso que você quer. Eu posso te ajudar!" Os carinhos em sua face voltaram a acontecer. "Apenas me de uma chance de te ajudar. Apenas me de uma...". Ela teria terminado a frase, mas o berro ensurdecedor da moça tomou o local inteiro. Um berro de dor e agonia, pois a monstruosa mão que a alisava, agora havia lhe esmigalhado a mandíbula com um único aperto. A facilidade foi assustadora, a ponto de lembrar uma pessoa esmagando uma bolacha com um aperto. Ela não conseguia mais falar, apenas gritava de dor medo e agonia. Chorava como nenhuma pessoa jamais tinha feito. Ele apenas a observava, em cima de seu corpo, com muita curiosidade.

  A imagem de seus pais e noivo não viam mais a mente. Ela não conseguia lembrar-se de suas feições, por mais que fizesse força para tentar esquecer a dor. A única figura que lhe vinha a mente era o gigante monstro perturbador lhe encarando e observando. Quanto mais ela gritava e chorava, mais curioso ele ficava, como se estivesse conhecendo funções novas de seu novo brinquedo.

 Em sua gigante mão havia uma linda e vermelha maçã. Ora a criatura olhava a fruta, ora a agonia da moça, tudo acompanhado de seus grunhidos cada vez mais altos. A fruta foi colocada com delicadeza na boca desossada da mulher, com gentileza. Ela tentava pronunciar alguns últimos pedidos de clemência, mas a fruta e a falta de movimentação lhe impediam de tal conclusão. 

  Aos poucos o torturador foi enfiando mais a maçã a fundo de sua boca engasgando a moça. Ela se debatia como podia, mas ele não parava de enfiar cada vez mais a fruta traquéia abaixo. O vômito foi inevitável, mas aquilo só piorava a situação lhe sufocando cada vez mais. O corpo se debatia e os olhos se viravam em um ritmo agonizante até.....se cessar. A criatura deu um grunhido acalmada e tirou a mão de dentro da boca do defunto deixando a maçã presa no meio da traquéia. Mais uma vez alisou o rosto, agora dessa vez sem vida, roxa e suja de vômito. Levantou-se e fitou por mais de um minuto em silêncio.

  O caixão foi fechado com uma tampa de vidro pelo monstro que voltou, novamente, a se arrastar e grunhir a cada respiração para fora do quarto, mas desta vez satisfeita de ter terminado seu primeiro serviço. O primeiro de muito.

CONTINUA...



André Bludeni

segunda-feira, 27 de abril de 2015

Limbo: Gozo

gozo em poesia
pelo clitóris do cérebro 
altamente estimulado
quando uso as mãos
para desenhar ritmo 
em palavras
quando minha mente cospe
toda porra entalada
no meu saco da mente 
onde os acelerados
espermas
dessa minha dúvida infinita 
debatem-se toda hora 
implorando pra sair dali
e poder nadar
rumo à fecundação 

minha cabeça é hermafrodita

basta apenas o primeiro estímulo 
ela já vive em constante estado de tesão 
gozará, certamente gozará 
só precisa de papel e caneta
que vão ensaiar posições 
e deixar tudo isso 
cada vez
melhor


                                                                                       Caroline Westerhout
Bea Mansano

Limbo: Mais Gole Desse Vinho

um dia ele resolveu abrir a mim suas dores de amor.
ele dizia assim: poxa, Roberto, eu fiz tudo o que eu pude por aquela mulher. conheci sua mãe, seu gato, sua samambaia, suas comidas favoritas. aprendi algumas palavras em árabe para agradar a seus avós, perdi horas de sono observando ela dormir. sorri diversas vezes ao trânsito do meio dia só para vê-la por alguns minutos em seu intervalo de almoço.
eu tolerei aqueles certos amigos, Roberto, sem falhar com nenhum. estive com ela na doença e nos seus sonhos. entreguei meu corpo aos seus projetos.
eu fui dela, cara, eu fui só dela por todos esses anos.
ela é dona dos olhos mais encantadores que eu já vi... e o cheiro dela, Roberto? o cheiro dela sempre me consumiu por inteiro.
eu sempre achei que ela me amasse assim, meu amigo. eu realmente acreditei nisso.
assim como acreditei nas suas horas extras e que as vezes ela dormia na casa da avó. acreditei que o roxo que apareceu na sua bunda era mesmo fruto de uma mera batida. acreditei quando ela disse que o cheiro musgoso na sua roupa era porque ela tinha usado o desodorante do irmão e também quando ela disse: aquele cara era meu primo de quarto grau e ele sempre foi assim carinhoso comigo, você não deve enciumar.
ela já não é minha, Roberto. eu sinto no seu abraço, no recuo da sua língua no beijo e até mesmo na sua ausência durante o sexo.
ela parou de olhar em meus olhos ao longo desses últimos dias.
ela até trocou de perfume e cortou os cabelos.
não me atende com a mesma alegria.
tem preferido estar sozinha quando em casa.
não me mostra mais os seus textos.
e ontem, Roberto, quando eu disse que a amava, ela desviou o olhar, levantou-se e foi até a cozinha pegar um copo de água. de lá foi direto pra cama e dormiu antes que eu chegasse.
sabe, amigo, eu preciso mesmo deixá-la. se é isso que ela quer e precisa, não é mesmo?
mas ela não me diz nada, cara. ela não abre aquela boca deliciosa para falar nada.
eu já questionei e ela só diz "é bobagem sua, esta tudo bem"
mas eu a conheço, Roberto! eu sei que ela não está mais feliz.
não vou pedir-te conselho algum. agora de nada eles me servem.
perdi em pranto metade do meu corpo.
ela vai voltar a sorrir, Roberto, e dizer sem pudor "eu também te amo", eu sei que vai. mas será longe de mim e será para outro cara.
e essa é a ultima coisa que eu farei por ela.
pode anotar ai, Roberto. eu vou ressuscitar também e dessa vez eu farei tudo o que eu puder, mas por mim.
acho que é o que eu deveria ter feito sempre, não é?
ora, não responda! dessas coisas nenhum de nós nunca vamos saber... nem adianta conspirarmos.
dá-me aqui mais gole desse vinho.






Beatriz Mansano

sexta-feira, 24 de abril de 2015

Sr. Armitage e o Poço da Vida

  Ele ficaria por horas dormindo se não tivesse tomado a cutucada na costela. Os olhos se abriram lentamente, mas se acostumaram rápido com o céu púrpura do dia que ainda não havia nascido. O balançar do mar não era a melhor maneira de se acordar, mas depois de dois anos praticamente dentro da água foi forçado a não ligar mais para os enjoos matinais.

  "Rápido Harold! Traga meu café e abra as velas. Estamos mais perto do que imagina.". Lá estava, Sr. Armitage. O velho capitão aparentava ter muito menos idade do que realmente deveria ter. Obviamente as rugas estavam presentes, mas seu porte físico não era a de um velho moribundo. Era bem alto e de ombros largos. Os braços pareciam duas toras de árvores escondidas nas longas mangas azul-marinho do sobretudo desgastado. A pele era mal cuidada e bem queimada de sol, sempre descascando nas maçãs da bochecha que possuíam uma barba branca bem farta. As características mais marcantes do velho eram sua boina preta, a bengala que sempre o cutucava quando fazia algo errado e o olho cego com uma grande cicatriz que o atravessava. Nunca o jovem tivera coragem de perguntar como aquilo acontecera.

  O garoto, recebendo golfadas de vento molhado no rosto, foi até a proa do veleiro com a xícara de café frio na mão. Sr. Armitage observava o horizonte sem piscar, apenas pegou a xícara da mão do garoto e e deu um grande gole. "Eu consigo até sentir o cheiro Harold! Estamos perto!".

  O velho sempre o chamara de Harold, mesmo esse não sendo seu nome, mas ele preferia não contraria. Talvez fosse a idade...talvez a lembrança de alguém querido que não estivesse mais presente. "O Sr. tem certeza? Estamos no meio do nada e a maré está..."
  "Tolo! Não acredita, não é? Você verá, você verá! Coma alguma coisa e vire a estibordo quando terminar seu desjejum .". O velho mostrou um grande sorriso de dentes podres e foi até a popa do Vitória cantarolando a velha música da Sereia e do Leão Marinho, como toda manhã. O jovem sabia que Vitória era o nome do veleiro em homenagem a irmã de Sr. Armitage. "Uma jovem pequena, mas muito forte", como ele praguejava em dias de tempestade.

  Fazia dois anos que o jovem estava a bordo do Vitória com o Sr. Armitage. Depois do incêndio, ele ficara orfão e começou a viver nas ruas sobrevivendo de pequenos furtos e esmolas. Mais das esmolas já que nunca fora forte ou ágil, logo era sempre pego nos seus furtos. Foi numa dessas vezes, enquanto apanhava de três comerciantes no porto local, que ouviu o assobio ensurdecedor de Sr. Armitage. O barulho fez os três homens cessarem a surra no mesmo momento  e darem espaço para o velho levantá-lo do chão e limpar o sangue de seu rosto com a manga do sobretudo. Nunca o tinha visto na região, mas pelo jeito que os homens abaixaram a cabeça, sabia que todos o respeitavam, e muito.Nenhuma palavra foi dita pelo velho, mas o garoto soube, como um aviso, que deveria segui-lo.

  A manhã já estava clara e esquentando quando Sr. Armitage voltou a proa, agora acompanhado de Spooky, um daschund arlequim. O cão era obeso e mal caminhava. Devia ter a mesma idade do que tinha de quilos, mas sempre parecia estar sorrindo e de bom humor com o rabo abanando. Por onde Armitage ia, Spooky se arrastava atrás. O mais curioso era que o cachorro tinha um olho azul, o mesmo olho que Sr. Armitage era cego.

  "Nós chegamos..." a voz rouca do velho saiu quase como um sussurro. "O Poço da Vida.". O jovem não entendeu, pois estavam no meio do alto mar. Sr. Armitage era como um pai para ele. Sempre o tratara bem e ensinara praticamente tudo de como velejar, mas essa história de Poço da Vida ele nunca levara a sério. O velho sempre dizia que esse era o verdadeiro destino e que era lá que a juventude seria reconquistada, mas aquilo não lhe cheirava mais do que lenda de marinheiros.

  "O Poço da Vida, o lugar beijado por Deus. É lá que homens se tornam lendas e histórias são criadas. Uma vez lá e é certeza absoluta que voltará, mas apenas mais uma vez. O Poço traz glória, mas sabedoria para poder saborear realmente a verdadeira juventude.". Pelo menos uma vez ao dia Sr. Armitage citava esse poço e pelo jeito essa era a vez do jovem descobrir se o velho era gagá ou não.

  Spooky colocou sua cabeça para fora do veleiro e deixou suas orelhas escorregarem pelo focinho. Parecia que o cachorro pressentia algo também. "Pare o Vitória!", gritou Armitage cuspindo bolotas de saliva enquanto se apoiava na bengala. O jovem forçou a parada do veleiro e o silêncio se aprofundou no momento. O mundo tinha estacionado. O mar parecia um tapete e nenhum resquício de vento aparecia.
  "3, 2, 1,..." Sr. Armitage parou de contar e aos poucos, em menos de um metro a bombordo, onde Spooky olhava, uma luz verde apareceu no tapete azul. a cada segundo a luz crescia e parecia ficar cada vez mais fosforescente até chegar ao tamanho do veleiro e brilhar como uma estrela.

  O jovem estava boquiaberto com aquilo, não conseguia se expressar. O velho estava certo, o Poço da Vida estava na frente dele. Spooky latia entusiasmado, mas Sr. Armitage apenas abriu um leve sorriso e deu um suspiro satisfeito antes de tirar a boina e coçar a cabeça calva vermelha.

  "Harold, pegue aquele frasco de vidro e o encha com a água do poço, por favor.". O garoto, ainda em choque, todo estabanado foi realizar a ordem do velho. Armitage sentou-se em cima do rolo de corda, cansado, acendeu seu fumo e acariciou a cabeça do fiel companheiro de quatro patas.

  O pote brilhava em um tom verde esmeralda hipnotizando os olhos cor de mel do garoto. Sr. Armitage apenas observava seriamente enquanto fumava seu segundo cigarro. "Vamos, Sr. Armitage. Beba o quanto puder e finalmente poderá voltar a ser jovem como sempre fala! Depois podemos encher mais uma vez esse frasco e as outras canecas e assim podemos vender por um ótimo preço! Conseguiremos bastante dinheiro, reformaremos o Vitória e o senhor poderá velejar como gosta para os locais mais...".

  "Calado, garoto tolo! Me passe o frasco." Sr. Armitage estendeu a mão enrugada com as unhas roídas para alcançar o frasco. "Há muito tempo atrás, logo após a morte de Vitória, meu pai me trouxe até exatamente este mesmo lugar. Enchemos um copo, eu lembro, e ele chorou por horas sem dizer uma palavra. Ele limpou as lágrimas e disse que se minha irmã tivesse aguentado um pouco mais de tempo ele daria aquele copo para ela.".

  Sr. Armitage colocou o frasco no chão e chamou Spooky. "Eu achei que ele fosse dar um grande gole e que navegaríamos por essas águas misteriosas eternamente. Bastava atingirmos uma idade avançada e voltaríamos para cá, mas não, ele não bebeu.". O cão começou a beber a água sedentamente do frasco que estava no chão.

  "Meu pai jogou a água de volta ao mar, me beijou a testa e voltamos para o porto. Nunca mais tocamos no assunto, mas eu havia entendido a lição.". O jovem não sabia se prestava atenção na história ou no cachorro que a cada lambida levada a boca rejuvenescia um ano. "A vida, a juventude, não vale a pena sem ser compartilhada. Meu pai nunca quis a água para ele, a intenção era dá-la para minha irmã para partilharmos juntos uma vida.".
  "Mas...mas.." O jovem gaguejava e olhava Spooky, um filhote, brincar de pegar o próprio rabo em latidos finos.

  "Eu estou velho e cansado. Já vivi o que tive que viver. Já tive minhas felicidades e tristezas e me orgulho de cada uma. Mas eu quero que você aprenda isso também. Eu irei embora um dia, não tardará muito. Spooky te acompanhará até onde ele puder e depois você viverá. Quando chegar a hora, você trará o seu Harold para este mesmo lugar e lhe ensinará o sentido da vida. Na hora certa, quando realmente entender o significado dessa viagem, dessa vida.".

  Sr. Armitage levantou-se e tirou sua boina e a colocou na cabeça do garoto. O beijo na testa foi igual ao que recebeu de se pai em sua infância. No final do dia os três, velho, garoto e filhote, voltaram para o porto sem dizer uma palavra, mas com a lição aprendida.



André Bludeni

quinta-feira, 23 de abril de 2015

Criticando Cinema: Vingadores - A Era de Ultron

        Continuação aborda temas mais complexos sem deixar ação e humor de lado

  O mundo nerd/geek explodiu em emoções em 2013 com a vinda dos Vingadores para os cinemas. Nunca foram a equipe de super-heróis mais famosa (sempre atrás da sombra da Liga da Justiça), mas após o grande trabalho da Marvel de colocar seus heróis em filmes de qualidade nas telonas, o ápice foi juntá-los em um único filme que prometida uma trama e um universo expandido muito maior do que já fora feito nos cinemas mundiais.
   Em Vingadores: A Era de Ultron, a eloqüência e pirotecnia são evidentemente muito maiores, mas o filme fica atrás do primeiro longa em questão de história  e contexto a grande trama criada pela Casa das Ideias.


  Neste filme, o  assunto principal é a fraternidade e a consciência. Todos os personagens tem momentos de reflexão própria para analisar suas atitudes já feitas no passado, como foram suas consequências nos tempos atuais e o que de ve ser feito no futuro com os dons que possuem em mãos. O arco familiar também fica muito mais forte, onde temos os irmãos Maximoffs sempre defendendo uns aos outros, Gavião Arqueiro e seu lado mais "líder emotivo" no grupo, Banner /Natasha em um novo casal para história e a relação mais curiosa com Tony Stark e Ultron em uma ligação de pai/criador bem baseada na história de Pinóquio, o boneco que queria ser de verdade ( a animação da Disney faz neste ano 75 anos, uma homenagem bem forte com frases e músicas do desenho).


  Outrora um fabricante de armas, o Homem de Ferro (Robert Downey Jr.) continua sendo obrigado a encarar o resultado de seus atos passados. Tornar-se um super-herói foi parte do processo de lidar com essa consciência. Agora, virar um defensor global é ensejo ainda mais poderoso nesse sentido, já que sua busca por redenção passa pela criação de uma legião de robôs, comandados por Jarvis (voz de Paul Bettany), que patrulham o mundo e pretendem torná-lo algo "melhor".


  O tormento velado de consciência motiva o desejo por uma inteligência artificial de verdade, a criação de um ser imune ao erro. Afinal, Jarvis é limitado, um sistema operacional inteligente, mas incapaz de tomar decisões que fujam de sua programação. Faz todo sentido dentro dessa premissa, então, que outro personagem assombrado pelos seus atos, Bruce Banner (Mark Ruffalo), partilhe desse ideal e ajude Stark a concretizá-lo, quando ambos recuperam o poderoso cetro de Loki, fonte inesgotável de energia e de controle psíquico.

  É essa dança de mentes perturbadas que desperta o transtornado Ultron (James Spader). O androide antagonista do filme não poderia ter melhor intérprete. Spader, que atuou presencialmente e foi substituído por computação gráfica de captura de movimentos (estudados ao lado do mestre na técnica Andy Serkis, que aqui vive o vilão Ulysses Klaw), dá um show. Ameaça, ironiza, desafina, seduz, faz piada e mata por pura e fria lógica, do tipo que dita que para resolver um problema você deve eliminar sua fonte: os Vingadores e a humanidade. Cartilha tradicional da boa ficção científica de robôs super-inteligentes, mas não efetivamente conscientes. Infelizmente este é um vilão que fica atrás da grande trama que está por vir deixando a "ameaça Ultron" um pouco pequena pra tanto prestígio.

  Muito se falou em um tema mais sombrio neste segundo filme, mas a realidade é um pouco diferente. Realmente o tema abrangido no filme é mais adulto e com cenas um pouco mais chocantes, mas em nenhum momento o longa perde a característica Marvel de ser com diversas cenas de comédia e seqüências de ação típicas de HQs. Não tem o que se falar dos efeitos especiais desse filme, que chegam em um patamar nunca visto antes. Tudo é muito detalhado e em ângulos espetaculares de tirar o fôlego.

  O respiro, quando acontece, vem em momentos de diálogos intimistas, quando todos os Vingadores estão equilibrados em seus trajes civis. Ao menos nessas cenas de tranquilidade, a aventura aproveita para explorar personagens que não têm seus próprios filmes para serem aprofundados. É o caso do Gavião Arqueiro (Jeremy Renner), que tem participação mais longa - ainda que um tanto deslocada do tema central - e da interessante relação entre a Viúva Negra (Scarlett Johansson) e Banner/Hulk.

  Os gêmeos Wanda e Pietro Maximoff (Elizabeth Olsen e Aaron Taylor-Johnson) operam por conta própria, guiados por um desejo de vingança e são um dos grandes pontos do longa. A participação de ambos, individualmente é muito bem-vinda onde cada um dos dois tem seu carísma característico, mas ao juntá-los como irmãos e apresentar o amor entre os dois, é difícil para o púlbio de comprar aquilo, talvez pelo fato de terem sido pouco trabalhados. É inquestionável que a preferência fica com Wanda, que além de uma atuação boa, traz a personagem trejeitos e cenas que lembram muito filmes de terror e um estilo macabro que encaixa-se perfeitamente ao proposto. A heroína tinha mesmo que estar presente, especialmente pelo seus poderes de manipulação da realidade - e da percepção. De novo, a mente é o foco, e a representação que o filme faz dessas habilidades é ao mesmo tempo estranha e plasticamente bonita.

  Com sua própria consciência, egressa de tempos mais simples, Steve Rogers (Chris Evans) é mostrado em vislumbres de choque com Tony Stark. O Sentinela da Liberdade é o oposto perfeito para a ideia, que flerta com o totalitarismo, de uma força de paz corporativa, atuando em solo estrangeiro, do Homem de Ferro.  Finalmente temos apresentado uma falha do "homem perfeito" que Rogers era, sua necessidade de estar sempre presente em um tipo de guerra, seja ela real ou mental.

  Falava-se em heróis secretos, em possíveis ganchos do tipo que alucinam os fãs, mas a aventura centra-se (por mais que meu lado fanático refute em dizer isso) corretamente em seus personagens principais, na situação em questão, deixando o futuro em aberto, com muitas possibilidades mas poucas certezas, sem grandes acontecimentos castradores da criatividade dos cineastas que seguirão esse legado.

  Um dos novos heróis a serem trabalhados é o sintetizoide dos quadrinhos, Visão ( Paul Bettany). Uma adaptação perfeita do personagem nas páginas, a criatura surge simplificando todos os seus conceitos das HQs, mas ao mesmo tempo mantendo-os intactos. Enquanto nas aventuras impressas o Visão era cria de Ultron, usando as memórias de um companheiro caído dos Vingadores, aqui ele é um fruto de inadvertido esforço coletivo, algo extremamente bem pensado dentro da lógica do filme. É chamado de "inocente" logo nos primeiros momentos de vida, mas é alguém movido por uma consciência poderosa - a de alguém único e capaz de fazer a diferença no futuro da espécie, seja lá qual for. Todas as suas aparições roubam a cena no filme, em especial uma luta ao lado de Thor (Chris Hemsworth), que tem pouco o que fazer na história, mas apresenta uma promessa grande para seu terceiro longa Ragnarok e para o contexto todo da trama de universo expandido atrás da Gemas do Infinito. Pelo menos temos algumas das melhores sequências de batalha com o herói Visão. Etéreo, poderoso e sutil como deve ser, o Visão é a representação pura da ideia que guia o filme.

  Em um filme ótimo para se divertir, ver e rever, Vingadores: A Era de Ultron, impressiona nos efeitos, nos atores, nos questionamentos e claro na expectativa para futuros filmes, mas deixa a desejar dentro da grande história criada desde os primeiros filmes solos dos heróis que promete uma grande história com as Gemas do Infinito, a Manopla do Destino e Thanos. Dentro da história por completo, é apenas um trecho insignificante que poderia passar batido, diferente do primeiro filme que fora mais que essencial.



André Bludeni

sexta-feira, 17 de abril de 2015

Somos Todos Verônica?

                                     Somos todos Venônica? Eu não!

  Um fato que está dando muita discussão nas redes sociais é a suposta tortura contra a travesti Verônica por carcerários aqui na cidade de São Paulo. Obviamente sou contra qualquer tipo de violência, mas alguns pontos não se encaixavam nesta história e eu fui atrás para saber o que realemnte se tratava o ocorrido.
  No dia 10/04 o sr. Charleston, conhecido como Veronica, tentou matar à pauladas a idosa Laura, de 73 anos de idade. Na confusão, ela também agrediu os policiais militares que a detiveram e ainda agrediu outros dois homossexuais, sendo um deles um transexual conhecido como BEATRIZ. Por este motivo,  Veronica foi presa em flagrante por tentativa de homicídio. Dois dias após, no dia 12/04, o carcereiro, ao abrir a cela onde estava Verônica, foi atacado e teve a orelha arrancada por esta à dentadas. Houve luta corporal e foi preciso o uso de força física para fazer cessar a conduta de Verônica por mais dois carcerários. Toda esta toada, resultou no seguinte cenário:
a) A idosa Laura, de 73 anos, permaneceu internada para tratar os traumas no crânio. 

b) O carcereiro, teve que ser internado e passou por cirurgia para reconstrução de sua orelha (sem sucesso) e;

c)  Verônica, teve o rosto machucado pela intervenção dos policias que a contiveram.


                                                                          UM CAOS TOTAL!


  Seria mais uma história de violência de nossas cidades, se não fosse um detalhe: Hoje, alguns movimentos de esquerda e de defesa LGBT estão se manifestando em defesa de Verônica e lançaram a campanha: "SOMOS TODOS VERÔNICA"! Até a revista de esquerda FORUM, se manifestou em apoio ao transexual. Enquanto isso, esses mesmos não demonstram qualquer preocupação a respeito do carcereiro que perdeu a orelha ou da idosa que quase foi morta à pauladas. Outra coisa que causa perplexidade é que também não se importaram com o transexual que tentou salvar a idosa e é conhecido como Beatriz, o qual também foi agredido e machucado.

  Eles sempre estão preocupados em achar uma vítima da Polícia ou da Sociedade "branca cristã e heterossexual", se aproveitando nojentamente, assim, do vitimismo alheio de quem eles convencem ser oprimidos. A questão aqui em pauta não é mais a opressão contra o homossexualismo, mas sim a opressão contra um criminoso. As pessoas as vezes se esquecem que a opção sexual é apenas uma característica da pessoa e não um trunfo para situações do nosso cotidiano.

  Verônica é uma criminosa sendo ela homossexual ou heterossexual, sendo negra ou branca, torcendo para o Corinthians ou para o Palmeiras. A mídia mentiu em falar que Verônica teve o cabelo raspado, pois ela usava peruca. A mídia também mentiu em dizer que Verônica foi despida, pois esta estava nua quando atacou a idosa (segundo o próprio depoimento desta).

  Eu já me acostumei com a total falta de apoio e da inversão de valores que os policias sofrem neste país (alguns até com razão), motivo pelo qual, não me surpreendeu muito o total abandono do policial que perdeu a orelha. O que me surpreendeu neste caso foi que, além do policial, ninguém se preocupou em saber o estado de saúde de uma idosa de 73 anos, que poderia ser mãe ou avó de muitos dos que estão lendo este texto. Ou até mesmo a falta de preocupação pela transexual Beatriz, que também deveria ser apoiada pelos grupos que defendem a minoria.

  Alguns podem alegar que não tinham conhecimento de existir uma senhora ou da transexual nesta história, mas por quê isso ocorreu? Porque a mídia preferiu omitir! Para eles é muito mais rentável distorcer uma história para lucrarem! Por quê a Sra. Laura não foi notícia? Porque crimes contra idosos não vendem mais, o povo já está "acostumado". Por quê Beatriz então não foi foco de notícia? Ela faz parte de uma minoria oprimida e que foi agredida, não? Por mais que a agressão dela não tenha sido por sua sexualidade, isso venderia como eu havia afirmado anteriormente, correto? Sim, mas ela foi agredida por outra homossexual e isso seria fervorosamente contrariado pelos dois pólos da sociedade. Os extremistas da "sociedade branca cristã" usarem isso como moeda para banalizar a situação e os "defensores" das minorias teriam um marketing ruim tendo um travesti agredindo outro. Entende como tudo virou negócio através das notícias controladas pela mídia?

  Isso tudo só demonstra o quanto nossa sociedade está doente e influenciada por movimentos preocupados em defender apenas membros de minorias, sejam qual for a situação em que eles se encontrem, estando eles certos ou não, sejam eles criminosos ou não por influência de algo muito maior. Estes movimentos não defendem todos os humanos, mas apenas alguns humanos: os que pertencem a grupos vulneráveis e taxados oprimidos pela própria mídia. Então, porque usar a nomenclatura "direitos humanos"? Vivemos uma época em que se preocupam, primeiramente, com as peculiaridades de cada um e não com os seus atos praticados. Investiga-se, antes de tudo, se a pessoa que se envolve em algum evento, pertence a algum grupo vulnerável, o que caso se concretize, passa a dar a esta pessoa uma presunção de isenção de culpa e um status de oprimido. Se a outra parte for policial então, a presunção é inversa.

  O criminoso Charleston, deu lugar à vítima Verônica. Numa absurda inversão de valores, deixam de se preocupar com as ações que Charleston praticou e passam a se preocupar com as ações que Verônicas sofreu. Esquecem do criminosos e passam a enxergar o transexual, como se isso importasse, afinal de contas, criminoso é criminoso, seja ele gay ou heterossexual.

  A ação praticada pelo agente não interessa mais, mas sim se este possui certas características pessoais como ser negro, homossexual, favelado e a maior delas: NÃO SER POLICIAL, pois nesse caso, a presunção é invertida e envereda sempre para a culpa. A Polícia não é contra gays e transexuais. A Polícia é contra criminosos. Eu não sou contra gays e transexuais. Apenas sou a favor de gays e transexuais corretos, que neste caso é a esquecida BEATRIZ, abandonada por seus próprios pares.

  Precisamos sair um pouco da nossa zona de conforto e parar de absorver apenas o que a mídia nos despeja no colo. As coisas vão além disso! Precisamos analisar, refletir e debater o que nos é entregue, e não apenas consumir sem um questionamento.

Fernando Santiago

domingo, 12 de abril de 2015

Neurônio Gastronômico: Jamie's Italian Itaim

   Nada de pratos insossos ou porções pequenas. Para quem esperava que o Jamie's Italian -primeira casa do cozinheiro inglês Jamie Oliver no país- fosse uma decepção, sinto informar que o restaurante não é nada disso. A casa oferece comida italiana farta e bem executada e não fica a dever a cadeias bem sucedidas. A nova filia na Avenida Horácio Lafer, 61, tem uma maravilhosa arquitetura e ambientação bem moderna.


  Ao contrário do Fifteen, seu primeiro empreendimento aberto nos anos 90, em Londres, e com foco em comida internacional, o Jamie's Italian - como o próprio nome indica - tem como base a culinária italiana. O forte, obviamente, são as massas (preparadas no local) e pratos com carnes, aves e peixes. Quem é vegetariano e adepto de dietas sem glúten também tem vez ali.
 

 Mas não pense que é um lugar para se sentar e ficar horas apreciando a comida. Não! Os atendimentos são rápidos para ter bastante rotatividade de mesas, mas o diferencial está no atendimento dos garçons, que são muito atenciosos e bem humorados. Consegui contar três mesas que após fecharem as contas, despediram-se dos garçons com apertos de mãos em uma atitude bem mais amigável do que estamos acostumados.
 
Vamos aos pratos?
  
  Começamos com a cestinha de pães. Bem simples, com dois tipos de pães e umas quatro fatias, o couvert era acompanhado por azeite e um patê de azeitonas pretas. Nós devoramos duas cestinhas em questão de minutos, mas foi aí que o peso na consciência ( ou melhor no bolso) bateu, pois cada cestinha custavam exorbitantes R$ 22,00. Foi inevitável a conta de quantos pãezinhos franceses poderiam ser comprados com tanto dinheiro, logo, se a ideia é comer bem e não gastar, pode passar para frente este couvert  "bem salgado". 

  Fomos a seguir para as entradas. Não deixe de provar o saboroso Arancini Margherita, bolinhos de risoto de tomate e mozarela e apimentadíssimo molho arrabiata (R$28,00). Muito saboros e gostosos, mas a porção era bem pequena, apenas três bolinhos, o que fez o garçon passar por uma situação um tanto quanto chata em dividir um dos bolinhos, já que estávamos em quatro pessoas. Seguimos para a Lula Frita (R$28,00) que além de estarem bem sequinhas e saborosas, acompanhava uma maionese temperada muito gostosa. Mas, mas uma vez o tamanho da porção deixou a desejar.

  
















Os pratos foram servidos bem rápidos e o que economizaram na quantidade das entradas, o restaurante conseguiu compensar nos pratos principais. Cada prato serve MUITO bem uma pessoa. Bem feito também e com massa al dente é o Jamie's Sausage Pappardelle (R$39,00), onde temos ragu de porco e erva-doce feito com vinho tinto, parmesão farofinha de pão com ervas. Com toda certeza o melhor prato que pedimos, pois o molho estava magnífico e a erva-doce fez um equilíbrio perfeito com a carne de porco não a deixando tão forte.

  Outro prato de bater palmas foi a Lasagna Al Forno recheada com delicioso ragú de carne bovina e suína, abóbora assada e vinho tinto. A massa vinha em uma tigelinha de barro vinda direto do forno e servia duas pessoas facilmente.


  O terceiro prato foi o Penne Carbonara onde tinha panceta crocante, alho poró e um delicioso molho cremoso carbonara. Como fã desse prato posso afirmar que no local foi um dos poucos carbonaras tão bem feitos quanto os das tradicionais trattorias.


  Experimentamos também o Hambúrguer Italiano ( que de italiano não tinha nada) que vinha com queijo minas padrão derretido, salada, molho de tomate, picles e pimentas (R$46,00). Este foi o único prato que deixou a desejar. Parece que a beleza dele era mais importante que degusta-lo. A carne não estava tão macia e existia uma enorme dificuldade de comê-lo por causa de seu tamanho e de tanta coisa entre as fatias de pão. Apenas as batatas fritas realmente valeram a pena, com um delicioso sabor de alecrim e trufas.


  Para os formigões, o menu de sobremesas não deixa por menos. Fãs, mas fãs mesmo de chocolate vão adorar o Brownie Épico, bolo (doce e um tanto pesado) que é quase uma ganache servido com sorvete de caramelo e flor de sal e pipoca caramelada com licor Amaretto.

  Resumindo, o Jamie's Italian Itaim tem tudo para decolar aqui em terras brasileiras. Ótima comida, preço acessível, atendimento rápido com qualidade e bela arquitetura.



André Bludeni