quinta-feira, 23 de abril de 2015

Criticando Cinema: Vingadores - A Era de Ultron

        Continuação aborda temas mais complexos sem deixar ação e humor de lado

  O mundo nerd/geek explodiu em emoções em 2013 com a vinda dos Vingadores para os cinemas. Nunca foram a equipe de super-heróis mais famosa (sempre atrás da sombra da Liga da Justiça), mas após o grande trabalho da Marvel de colocar seus heróis em filmes de qualidade nas telonas, o ápice foi juntá-los em um único filme que prometida uma trama e um universo expandido muito maior do que já fora feito nos cinemas mundiais.
   Em Vingadores: A Era de Ultron, a eloqüência e pirotecnia são evidentemente muito maiores, mas o filme fica atrás do primeiro longa em questão de história  e contexto a grande trama criada pela Casa das Ideias.


  Neste filme, o  assunto principal é a fraternidade e a consciência. Todos os personagens tem momentos de reflexão própria para analisar suas atitudes já feitas no passado, como foram suas consequências nos tempos atuais e o que de ve ser feito no futuro com os dons que possuem em mãos. O arco familiar também fica muito mais forte, onde temos os irmãos Maximoffs sempre defendendo uns aos outros, Gavião Arqueiro e seu lado mais "líder emotivo" no grupo, Banner /Natasha em um novo casal para história e a relação mais curiosa com Tony Stark e Ultron em uma ligação de pai/criador bem baseada na história de Pinóquio, o boneco que queria ser de verdade ( a animação da Disney faz neste ano 75 anos, uma homenagem bem forte com frases e músicas do desenho).


  Outrora um fabricante de armas, o Homem de Ferro (Robert Downey Jr.) continua sendo obrigado a encarar o resultado de seus atos passados. Tornar-se um super-herói foi parte do processo de lidar com essa consciência. Agora, virar um defensor global é ensejo ainda mais poderoso nesse sentido, já que sua busca por redenção passa pela criação de uma legião de robôs, comandados por Jarvis (voz de Paul Bettany), que patrulham o mundo e pretendem torná-lo algo "melhor".


  O tormento velado de consciência motiva o desejo por uma inteligência artificial de verdade, a criação de um ser imune ao erro. Afinal, Jarvis é limitado, um sistema operacional inteligente, mas incapaz de tomar decisões que fujam de sua programação. Faz todo sentido dentro dessa premissa, então, que outro personagem assombrado pelos seus atos, Bruce Banner (Mark Ruffalo), partilhe desse ideal e ajude Stark a concretizá-lo, quando ambos recuperam o poderoso cetro de Loki, fonte inesgotável de energia e de controle psíquico.

  É essa dança de mentes perturbadas que desperta o transtornado Ultron (James Spader). O androide antagonista do filme não poderia ter melhor intérprete. Spader, que atuou presencialmente e foi substituído por computação gráfica de captura de movimentos (estudados ao lado do mestre na técnica Andy Serkis, que aqui vive o vilão Ulysses Klaw), dá um show. Ameaça, ironiza, desafina, seduz, faz piada e mata por pura e fria lógica, do tipo que dita que para resolver um problema você deve eliminar sua fonte: os Vingadores e a humanidade. Cartilha tradicional da boa ficção científica de robôs super-inteligentes, mas não efetivamente conscientes. Infelizmente este é um vilão que fica atrás da grande trama que está por vir deixando a "ameaça Ultron" um pouco pequena pra tanto prestígio.

  Muito se falou em um tema mais sombrio neste segundo filme, mas a realidade é um pouco diferente. Realmente o tema abrangido no filme é mais adulto e com cenas um pouco mais chocantes, mas em nenhum momento o longa perde a característica Marvel de ser com diversas cenas de comédia e seqüências de ação típicas de HQs. Não tem o que se falar dos efeitos especiais desse filme, que chegam em um patamar nunca visto antes. Tudo é muito detalhado e em ângulos espetaculares de tirar o fôlego.

  O respiro, quando acontece, vem em momentos de diálogos intimistas, quando todos os Vingadores estão equilibrados em seus trajes civis. Ao menos nessas cenas de tranquilidade, a aventura aproveita para explorar personagens que não têm seus próprios filmes para serem aprofundados. É o caso do Gavião Arqueiro (Jeremy Renner), que tem participação mais longa - ainda que um tanto deslocada do tema central - e da interessante relação entre a Viúva Negra (Scarlett Johansson) e Banner/Hulk.

  Os gêmeos Wanda e Pietro Maximoff (Elizabeth Olsen e Aaron Taylor-Johnson) operam por conta própria, guiados por um desejo de vingança e são um dos grandes pontos do longa. A participação de ambos, individualmente é muito bem-vinda onde cada um dos dois tem seu carísma característico, mas ao juntá-los como irmãos e apresentar o amor entre os dois, é difícil para o púlbio de comprar aquilo, talvez pelo fato de terem sido pouco trabalhados. É inquestionável que a preferência fica com Wanda, que além de uma atuação boa, traz a personagem trejeitos e cenas que lembram muito filmes de terror e um estilo macabro que encaixa-se perfeitamente ao proposto. A heroína tinha mesmo que estar presente, especialmente pelo seus poderes de manipulação da realidade - e da percepção. De novo, a mente é o foco, e a representação que o filme faz dessas habilidades é ao mesmo tempo estranha e plasticamente bonita.

  Com sua própria consciência, egressa de tempos mais simples, Steve Rogers (Chris Evans) é mostrado em vislumbres de choque com Tony Stark. O Sentinela da Liberdade é o oposto perfeito para a ideia, que flerta com o totalitarismo, de uma força de paz corporativa, atuando em solo estrangeiro, do Homem de Ferro.  Finalmente temos apresentado uma falha do "homem perfeito" que Rogers era, sua necessidade de estar sempre presente em um tipo de guerra, seja ela real ou mental.

  Falava-se em heróis secretos, em possíveis ganchos do tipo que alucinam os fãs, mas a aventura centra-se (por mais que meu lado fanático refute em dizer isso) corretamente em seus personagens principais, na situação em questão, deixando o futuro em aberto, com muitas possibilidades mas poucas certezas, sem grandes acontecimentos castradores da criatividade dos cineastas que seguirão esse legado.

  Um dos novos heróis a serem trabalhados é o sintetizoide dos quadrinhos, Visão ( Paul Bettany). Uma adaptação perfeita do personagem nas páginas, a criatura surge simplificando todos os seus conceitos das HQs, mas ao mesmo tempo mantendo-os intactos. Enquanto nas aventuras impressas o Visão era cria de Ultron, usando as memórias de um companheiro caído dos Vingadores, aqui ele é um fruto de inadvertido esforço coletivo, algo extremamente bem pensado dentro da lógica do filme. É chamado de "inocente" logo nos primeiros momentos de vida, mas é alguém movido por uma consciência poderosa - a de alguém único e capaz de fazer a diferença no futuro da espécie, seja lá qual for. Todas as suas aparições roubam a cena no filme, em especial uma luta ao lado de Thor (Chris Hemsworth), que tem pouco o que fazer na história, mas apresenta uma promessa grande para seu terceiro longa Ragnarok e para o contexto todo da trama de universo expandido atrás da Gemas do Infinito. Pelo menos temos algumas das melhores sequências de batalha com o herói Visão. Etéreo, poderoso e sutil como deve ser, o Visão é a representação pura da ideia que guia o filme.

  Em um filme ótimo para se divertir, ver e rever, Vingadores: A Era de Ultron, impressiona nos efeitos, nos atores, nos questionamentos e claro na expectativa para futuros filmes, mas deixa a desejar dentro da grande história criada desde os primeiros filmes solos dos heróis que promete uma grande história com as Gemas do Infinito, a Manopla do Destino e Thanos. Dentro da história por completo, é apenas um trecho insignificante que poderia passar batido, diferente do primeiro filme que fora mais que essencial.



André Bludeni

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