sábado, 31 de janeiro de 2015

Criticando Cinema - O Conto da Princesa Kaguya

    Já faz tempo que o Estúdio Ghibli me encanta com suas animações magnificas, cheias de encanto, emoção e com um toque oriental único. Também já tem tempo que o folclore japonês é algo que me facína pelas suas mensagens tão significativas e cheias de discussões espirituais que devemos levar para a vida toda.


  Meu primeiro contato com Kaguya Hime, A Princesa da Lua, foi em uma coleção e Contos Japonesês que ganhei há mais de quinze anos e essa foi uma história que me encantou, além da tocante mensagem, mas pelo curioso desfecho que a lenda termina. Ao ver que um filme de uma das minhas histórias favoritas seria criado pelo meu estúdio favorito eu apostei em uma obra-prima certeira, e não me enganei.


  Isao Takahata, co-fundador do Estúdio Ghibli ao lado de Hayao Miyazaki, realiza em O Conto da Princesa Kaguya (Kaguyahime no Monogatari, 2013) mais uma joia da extensa lista de obras-primas da empresa.A magnífica animação foi criada através de técnicas convencionais. Tudo foi pintado e desenhado em papel e apenas pós-produzido em computadores. O resultado casa perfeitamente com a temática naturalista da história.


  A trama adapta uma antiga história japonesa, O Conto do Cortador de Bambu, ou A Princesa da Lua. Nela, um casal que vive na floresta descobre, dentro de um fluorescente broto de bambu, uma diminuta princesa. A menina se transforma em um bebê e logo em uma moça de beleza celestial. Seu pai adotivo, certo de que tal bênção precisa ser celebrada à altura, a leva à capital para ser cortejada e encontrar seu espaço entre a realeza. Mas o coração da "bambuzinho", como a chamam seus amigos da floresta, clama por outras coisas.


  Lindamente trabalhado, com belas canções e cheio das mensagens que nesses anos todos tornaram-se sinônimo de um dos maiores estúdios de animação do mundo, O Conto da Princesa Kaguya encanta a cada momento, seja no desenho de uma rã, no tombo de um bebê, no design dos personagens ou no mágico climax. Uma animação madura, que não se furta a tratar de sentimentos ou situações difíceis, mas o faz com a sensibilidade que só o Estúdio Ghibli é capaz. 


  Nesta época onde as animações tem como regra primordial o uso de computação gráfica e muita ação colorida para cativar os pequenos, O Conto da Princesa Kaguya segue o caminho oposto com traços a mão rústicos, com poucas cores e mensagens mais complexas. A esperança é que a Academia consiga enxergar tal maestria criada e premie o longa com o título de Melhor Animação de 2015 ao qual concorre junto com tantos outros desenhos da Disney e Dreamworks feitos para vender bonecos e camisetas.




André Bludeni

De Tudo Um Pouco - Fim da Temporada ou Fim da Carreira?

Gosto de basquete, muito mesmo. É o meu segundo esporte, atrás somente do futebol. Gosto de jogar, de assistir, principalmente aos jogos da NBA. Acompanho basquete desde pequeno, lembro-me do sensacional título brasileiro do Pan-Americano, comandado por Ary Vidal, Oscar e Marcel (sempre gostei mais dele do que o Oscar). Mas de moleque, o que mais me marcou no basquete foi uma camisa amarela também, mas não a da seleção brasileira, na verdade ela não é amarela, ela é dourada, para se mais exato ela é dourada e púrpura... Legendária! Lembro-me de assistir ainda pela Bandeirantes com narração de Luciano do Valle (infelizmente na década de 80 ainda não tinha tv a cabo ou internet) aos jogos desse time com dois caras sensacionais James Worthy e Kareem Abdul-Jabar, e mais um terceiro, esse um fora de série, um armador que fazia assistências com uma facilidade impressionante, encontrando espaços onde pareciam não existir, parecia mágico, até por isso o apelido Magic Johnson. Para quem não possa ter reconhecido ainda, o time em questão é o Los Angeles Lakers. Era sensacional assistir aos jogos desse time. Encantava mesmo.


Um adendo interessante, e que era engraçado, que com o tempo percebi que só eu torcia para ele, curiosamente no basquete se repetia com o meu time algo que acontecia também com o meu time de futebol, ou seja, quem torce para ele somente torce para ele, os demais são contra, não há espaço para uma leve simpatia. Assim fazendo uma transferência simples, se o Knicks é o Flamengo da NBA, com torcedores espalhados por todos os lugares, simpatizantes e tal. O Lakers é o Corinthians, uma torcida forte, fanática, mas que só tem a sua torcida, ou seja, ou alguém torce contra ou torce a favor. E para deixar as coisas ainda mais parecidas, o principal rival do Lakers também veste verde. Poxa, quer coisa melhor para se apaixonar definitivamente para um time? Ele é uma versão do seu time de futebol em outro esporte. Simplesmente Perfeito! Lakers virou segundo time mesmo, no quesito esporte ele só perde em importância para o Corinthians. Tanto que os dois disputam para ver quem me estressa mais.

Bom, mas deixa retomar o foco. Em 1992 o mundo da NBA foi sacudido, e principalmento os fãs do Lakers tornavam-se órfãos de seu ídolo, seu franchise player, Magic Johnson anunciava a aposentadoria, pois havia contraído o vírus HIV. O fim de uma era!

Anos negros e tensos, tendo de aturar Nick Van Excel, mais preocupado em ir para Cancun do que ir para os playoffs. Mas em 1996 as coisas iriam mudar. Para ser mais exato, no draft desse ano, o Charlotte Hornets faria a 13ª escolha, e seria esse jogador que revolucionaria a história do Lakers. Seu nome: Kobe Bryant, diretamente do High School americano, fã de Michael Jordan, mas principalmente um declarado torcedor do Lakers, que também ficara devastado em 1992, e que dizia para quem quisesse ouvir, que só interessava a ele jogar em LA. Pronto! Uma nova era começava a ser escrita na história do Lakers.


Já na temporada 1996/97, eu lembro de que a Sprite lançou umas latas estampada com os jogadores da NBA, e eu comprei justamente a do Lakers que trazia a imagem do Kobe, eu achei legal por ser do Lakers e tal, e também porque era do cara que tinha ganhado o Concurso de enterradas daquela temporada.


Conforme o tempo foi passando a importância de Kobe foi crescendo, e ele fazia também por merecer. Como ignorar o All-Star Game da temporada 1997/98, quando ele foi escolhido para o seu 1º jogo das estrelas no time titular (depois desse viriam mais 17 escolhas, ou seja, fora na temporada como novato ele foi escolhido em todas as outras, ficando de fora somente por lesões), e nesse mesmo jogo travou uma disputa sensacional com o mito Michael Jordan, o que desencadeou de vez a discussão se Kobe realmente é o “herdeiro do legado de Jordan”, eu já respondo: Sim, ele é!


Surgiu a parceria Kobe & Shaq, que ficou perfeita quando o Lakers anunciou como técnico do time o Zen Master – Phil Jackson e seu triangulo. Pronto, finalmente viriam os títulos, e logo de baciada, tricampeões, o tetra não veio por um azar. O ano chave foi 2004. Lakers montou um supertime. Kobe, Shaq & Phil, teriam a companhia de Karl Malone e Gary Payton, seria somente passar o tempo e esperar a chegada do 4º anel. Ledo engano, o Lakers até chegou à final, mas foi atropelado pelo Detroit. E depois, o desmanche e a hora da virada. Kobe & Shaq não se suportavam, e em um golpe de Shaq ao melhor estilo ou Ele ou Eu, o super-pivô foi surpreendido, a franquia preferiu Kobe, era a hora de ele sair das sombras e se tornar o alpha dog em L.A.

Finalmente o Lakers tinha novamente um franchise player, alguém que o time seria montado ao seu entorno. E foi o que aconteceu, demorou um pouco, foi tenso, o próprio Kobe pensou em desistir, pediu para ser trocado, mas o tempo valeu a pena. Durante esse período negro, onde o Lakers ficou de fora de um playoff, e por duas temporadas não passou da primeira rodada, Kobe mostrou toda a sua genialidade, carregou o time nas costas, foi o líder de pontos durante as três temporadas, mas principalmente, foi histórico ao fazer 81 pontos – 2ª maior pontuação de um jogador, atrás apenas dos absurdos 100 pontos de Will Chamberlain – em 22 de janeiro de 2006 (o que eu considerei como um excelente presente de aniversário, hahaha).


 Após o período negro Phil Jackson retornou, no meio da mesma temporada chegou Pau Gasol. E daí as coisas começaram a andar, o Lakers voltou para as finais, novamente contra o time de verde, derrota e humilhação. Mas isso não se repetiria mais. Na temporada seguinte, venceu Orlando e conseguiu o 4º anel. E no outro ano a desforra contra o time de verde, vitória no jogo 7, foi épico, sensacional. Kobe conquistava o seu 5º anel, superava Shaq, empatava com Magic e estava a um de Michael Jordan.


Porém o basquete é tão irônico quanto o futebol. Após não conseguir novamente chegar até as finais. Phil Jackson resolveu se aposentar. O Lakers apostou em um treinador que até hoje eu não sei o porquê foi escolhido, Mike Brown, que levou o time até os playoffs e nada mais. O Lakers montou novamente um supertime, com Kobe, Nash, Artest (World Peace), Gasol e Howard. Lesões e principalmente a cretinice de contratar como técnico Mike D’Antoni fizeram o time nem passar da primeira rodada dos playoffs.

E agora após essa longa introdução...

A última temporada citada na “introdução” marca uma fase triste aos fãs do Lakers. É a primeira contusão “fim de temporada” de Kobe Bryant, com o rompimento total do tendão de Aquiles do pé direito. Para todos os críticos, não é uma contusão somente de fim de temporada, mas também de fim de carreira, afinal é uma contusão séria em um jogador de 34 anos. O próprio Kobe questionou, mas mostrando uma superação fora do comum, ele voltou na temporada seguinte, em um time desfigurado, com um Nash “baleado” e um Gasol irritado. Mas nem por isso ele fez por menos, mostrou dedicação, entrega, liderança, que é um craque com diferencial, e ao longo de 6 jogos ele foi pura dedicação, pena que o corpo não auxiliou e ele quebrou o joelho esquerdo, pelo segundo ano consecutivo, uma contusão de fim de temporada.

Mais uma vez o retorno tão esperado, no começo de temporada, em um time ridículo, onde o destaque é somente ele, e sua liderança, perseverança e genialidade. Ao longo de uma temporada pífia do Lakers, Kobe foi a única coisa que realmente fez valer a pena, com pontos altos como o jogo contra o Minnesota onde ele superou Michael Jordan no número de pontos. Mas somente a genialidade não gerou os frutos necessários, e ele lutou, se entregou, foi além do que muitos duvidavam, e infelizmente, foi além do que seu corpo aguentava, e dessa vez, não foi a perna esquerda que falhou com ele, foi a vez do ombro direito entrar em cena, e ter todos os ligamentos rompidos. Pelo terceiro ano consecutivo o corpo de Kobe lhe dá um aviso e termina com sua temporada. Mais uma vez surge o questionamento: Fim de Temporada ou Fim de Carreira? Essa é uma pergunta que só será respondida daqui há 9 meses. Como fã, sinceramente espero que não, pois um gênio merece um final digno para sua história e não tão melancólico como vem sendo.



Alexandre Araújo

sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Criticando Cinema - Birdman ou ( A Inesperada Virtude da Ignorância)

  Filmes de Super-Heróis é algo que hoje em dia virou um febre sem data para terminar. Os heróis dos quadrinhos se tornaram a sensação do momento chegando ao ponto de muitas coisas do mundo real se basearem nessas duas horas de blockbusters. Isso, obviamente, é algo com grande crescimento na última década, mas já existiam atores/ atrizes que se sustentavam em personagens tão marcantes e que hoje em dia lutam pela sobrevivência no mundo da arte que simplesmente tem olhos para o que teve mais bilhões gastos.

  Birdman traz Michael Keaton, o Batman de Tim Burton, como o protagonista Riggan Thomson, ator que viveu o super-herói alado Birdman no cinema em uma trilogia de sucesso e agora tenta provar nos palcos sua capacidade para atuação. A fusão do que está dentro e fora das telas, o conhecimento prévio do público do passado de Keaton, outrora o "astro da vez" - aqui em busca de seu primeiro Oscar - é imprescindível para o funcionamento do filme.


  As discussões colocadas no filme, na realidade, são coisas que muitas vezes já foram usadas ao longo do ano, mas desta vez de uma forma diferente dentro de um drama recheados e humor negro. Será mesmo que a sociedade esqueceu o que realmente é arte e a confunde com grandes efeitos, explosões e sangue? E quando devemos aceitar o término de uma grande carreira? Realmente vale tudo pela ascensão? 


  Os temas abordados pelo diretor mexicano Alejandro González Iñárritu, trazem um ator decadente que além de julgar rótulos colocados pelas pessoas que o criticam, também tenta sobreviver dentro delas num mundo onde o números e visualizações e curtidas torne as coisas "virais" e boas.


  Com grande elenco junto, como Emma Stone e Edward Norton ( praticamente sendo ele mesmo no papel do ator teatral enlouquecido) é evidente que todos se deixaram ao máximo para alcançarem grandes atuações. O resultado é ambos concorrendo para ator e atriz coadjuvantes no próximo Oscar.


  A questão é se o público irá comprar tal idéia. Além do mais, como o próprio filme questiona, este não é realmente um filme de super-heróis com grandes efeitos e explosões, mas quem sabe o mundo não esteja interessado em algo a mais e até a Academia enxergue e entregue a estatueta dourada de Melhor Filme para o homem-passáro.


André Bludeni

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Neurônio Gastronômico - Restaurante Chi Fu

  A variedade de restaurantes orientais no Bairro da Liberdade é indescritível. É possível encontrar pelo menos cinco restaurantes a cada quarteirão e todos mais exóticos do que o último visitado, mas são poucos que realmente valhem a pena parar, conhecer e voltar mais vezes. Felizmente este é o caso do Restaurante Chi Fu, localizado na Praça Carlos Gomes, número 200.



  A entrada do restaurante especializado em comida chinesa parece a entrada de um prédio antigo do centro de São Paulo em pedra branca com o nome do local em dourado, mas o ambiente interno é completamente diferente do esperado. O toque que lembra palacetes com grande quantidades de dourado, vermelho e artes chinesas, te transportam para o outro lado do mundo. O fato de quase nenhum atendente falar o português decentemente e as comunicações se basearem na clássica mímica e ao apontar no cardápio, apenas reforça essa sensação única. Falando no cardápio, ele é todo em mandarim com apenas alguns pratos traduzidos para o português.



  A comida não demorou para chegar, mas a grande surpresa foi na fartura que elas são servidas. Um prato chega a alimentar até três pessoas, mas sempre tem aqueles corajosos que aceitam o desafio e tentam enfrentar a missão com apenas mais um acompanhante.
  Começamos com a porção de camarões médios empanados, acompanhados de molho agridoce. Na realidade de médio os camarões só tem o nome, pois o tamanho dos animais chega a assustar. Não só pela quantidade, mas também pelo sabor. Muito bem fritos, crocantes e bem temperados. Ótima pedida.




  O Mifum com Lombo e Curry vem em um enorme prato parecendo uma montanha de macarrão que deverá ser desbravada. A massa é muito bem cozida e temperada com maestria nas especiarias chinesas. Muito bem acompanhado de lombo bem suculento e macio, com grande quantidade de legumes frescos, o prato é bem saboroso e apimentado na medida certa, dando vontade de repetir diversas vezes.



  A medalha de ouro vai para o Pato ao molho Agridoce. Este prato, tradicional de Pequim, traz uma preparação longa da carne. Primeiramente, a pele do animal é besuntada em um caldo de laranja, açúcar, especiarias e molho agridoce para apenas depois ser assado lentamente durante horas. o resultado é uma casca chocante, saborosa e uma carne macia e molhadinha. Este é um prato que não pode ser deixado de lado.






  Para finalizar, nada melhor do que a sobremesa única do local. O Pudim de Leite Frito. Em uma massa crocante por fora e cremosa por dentro, a sobremesa traz a originalidade nunca vista antes. Aliás, doce e fritura sempre combinarão.



  Não tem como não cogitar voltar ao Restaurante Chi Fu após este enorme banquete em, praticamente, um palácio chinês. Por mais tradicional que ele seja, irá agradar todos os visitantes de qualquer idade, etnia e costumes. Caso você ainda tenha aquela velho preconceito com restaurantes orientais por não confiar na higiene e tratamento da comida, aposte no Restaurante Chi Fu que não se arrependerá.

André Bludeni

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Destinos Entrelaçados: Capítulo 6 - Um Gole de Vingança

  O Twinings de laranja com canela já tinha esfriado fazia mais de meia hora, mas as mãos de Maya continuavam a tremer de nervoso. Vestia um conjunto social com creme, uma péssima escolha para o local, mas Maya sempre vestia-se impecavelmente. Ela precisava estar lá, pois o que tudo indicava a verdadeira moeda não estava no museu que trabalhava e sim uma réplica. Maya descobrira com o tempo que isso era muito rotineiro pelo risco que as artes e relíquias sofriam por ser roubadas ou danificadas.Isso explicava por Eleanor Reid ter a última peça da coleção.

  Foi uma surpresa o Caneca de Prata ter seu chá preferido para ser servido, mas naquele lugar nada era muito previsível. Nas duas horas que ficou sentada esperando Eleanor , inúmeras coisas inusitadas aconteceram a sua volta naquele bar. Teve briga de duas prostitutas com direito a joelhadas na cara de uma delas até a pobre mulher cair desacordada no chão, uma noiva com mais de 200kg de mãos dadas a um pequeno anão careca, um mutirão de crianças de rua fazendo um rápido assalto a um turista desprevenido, e claro, os clássicos bêbados que faziam suas micagens pelo excesso de bebida ingerida.

  A jovem estava nervosa com a visita que receberia. Não via Eleanor há anos e pelos rumores que se ouvia dos antigos colegas, sua sanidade mental tinha piorado com o tempo. Na verdade Eleanor Reid nunca tinha sido sua amiga mais "normal", mas era possível ter uma certa convivência com a mulher, mas ao que tudo indicava, as coisas tinham mudado bruscamente.

  Já havia passado muito tempo desde a hora marcada por Eleanor, logo ela tivesse desistido ou apenas tudo isso fora uma brincadeira de mal gosto da antiga amiga. Respirou fundo, deu um grande gole no chá frio e decidiu-se levantar para ir embora daquele horrendo lugar.

  Na mesma velocidade que se levantou, teve que voltar a sentar pois sentiu uma forte coisa lhe empurrando no ombro esquerdo para baixo. Era o cano do rifle de Eleanor que, em seguida, desfilou até o outro lado da mesa e sentou-se delicadamente repousando seu "bebê" ao lado da xícara de Maya.

  "Elly, quanto tempo...Estou tão feliz em te ver" Maya forçou um sorriso e colocou as mãos para baixo tentando evitar que Eleanor visse a tremedeira.

  "Você sabia que muitos animais ao perceberem que  seus predadores estão próximos, fingem estarem feridos ou mais dóceis para serem evitadas na hora da morte?" Os olhos de Eleanor se apertaram deixando a cicatriz da têmpora mais vermelha. As mãos da caçadora viraram carinhosamente o rifle com o cano virado para a jovem moça morena.

  "Elly, pare de besteiras! O que foi que eu fiz de errado? Nunca lhe fiz mal, pelo contrário! Somos amigas e sempre serei grata por tudo que fez a mim. Me guiou pelos lugares mais inóspitos e até por suas indicações que consegui meu emprego no museu!" Era a vez de Maya tomar o controle novamente da situação, pois aquele rifle apontado para seu peito não era algo muito de seu agrado.

  "Exatamente!" Eleanor gritou e bateu com o punho fechado na mesa assustando todos no local. "Eu levei você para todos aqueles malditos lugares para você procurar aquelas malditas moedas, lhe indico para seu maldito emprego e o que você faz? Você chama o MALDITO Jack Creed para lhe fazer um favor!?"

  Maya respirou fundo e não mudou o tom de voz. "E você se apressou e não deixou eu terminar o meu plano".

  "Pla..plano?" Pronto! Maya conseguiu o que queria. Tomou as rédeas da situação.
  "Sim, plano! Eu sei o quanto odeia Jack por ele ter feito....aquilo..." com receio Maya apontou pra cicatriz "... por isso contatei ele. Minha intenção era fazer com que ele pegasse a última moeda para mim e em seguida você o pegasse desprevenido. Bastava eu ligar para você avisando. Mas ao que tudo indica você já tem a moeda e agora só estamos em uma situação de quanto devo te pagar para tê-la."

  "Bem...então...Na verdade, eu não tenho a última moeda. Foi um método que arranjei para ter certeza que viria..." Eleanor abriu o maior sorriso que conseguia enquanto Maya ficava roxa de raiva.

  "O quê!? Você me fez acreditar que a moeda do museu era uma réplica? Então aquela é mesmo a verdadeira! Como pode Eleanor? Sabe que eu procuro elas todas praticamente minha vida inteira! Imagina se eu desistisse de contratar Creed para pegá-la se realmente eu achasse que era uma réplica!" Maya voltou a tremer e deu um gole desgostoso no chá.

  "Dane-se sua traidora! Você sabe o que ele fez comigo! Eu já te contei milhões de vezes e eu não estou falando dessa cicatriz na minha cara! Eu quero Jack Creed morto junto com os fantasmas que ele caça!" Lá estava a velha e vingativa Eleanor de volta.

  "Calma! Eu já falei que tenho o plano! Deixa ele pegar a moeda para mim que o entrego de bandeja para você!" Maya respirou fundo novamente sendo o oposto de Eleanor. "Aliás, é sério mesmo essas coisas de espíritos e demônios? Jack Creed é mesmo o melhor caçador sobrenatural?" Os olhos de Maya voltaram a brilhar entusiasmada.

Aquela curiosidade pelo além de Maya enojava Eleanor. Ela já tinha presenciado uma coisa ou outra, mas Maya mal sabia o que buscava. Era um caminho sem volta e que Reid decidiu não trilhar por razões óbvias.

  "Jack Creed pode ser o maior canalha de todos os tempos, mas depois da morte do pai dele, aquele homem viu coisas que ninguém deveria ver. Tornou-se algo...indescritível." Reid falou com descaso colocando seu fone de ouvido e procurando uma música em seu mp3.

  "Parece que ele não foi o único a surtar depois da morte do pai..." Maya falou baixo enquanto levava a xícara de chá até a boca.

  "Vou fingir que não ouvi isso, Maya. Para seu bem!" Os fones de ouvido começaram a tocar um rock metal no máximo volume.

  Maya revirou os olhos e levantou-se. "Eu te contato quando tiver tudo pronto com Jack para você pegá-lo e... Aliás, o que você pretende fazer com o homem?"

  Eleanor abriu um sorriso de canto e puxou seu rifle. "Normalmente alguém sempre costuma morrer nos meus planos."

  "Que seja! Eu só preciso que antes você deixe ele pegar a moeda para mim." Maya pegou sua bolsa e fez menção de alcançar a carteira no fundo para pagar o chá.

  "Não se preocupe. Essa fica por minha conta." Eleanor piscou enquanto pegava o segundo fone para colocar no ouvido e encerrar a conversa.

  Maya forçou um sorriso em agradecimento, mas ainda estava indignada com o volume da música. "O que está ouvindo, sua maluca?"

  "Porcos Voadores de Marte, ué? Nunca ouviu eles? Não era você a Senhora Cultura?" o sarcasmo e ironia eram evidentes para Maya.

  "Essa banda deve ter escapado das minhas escolhas semanais." O barulho dos saltos na madeira velha se afastaram com força de Eleanor que nem deu bola para a resposta. Apenas deu um tiro de rifle em direção ao bar e pediu seu bourbon aos gritos fazendo mais uma vez todos se assustarem dentro do bar, menos um velho bêbado caído no chão. Talvez ele estivesse morto, ma quem se importava?

  Pronto! Maya havia conseguido! Conseguiu fazer a cabeça de Eleanor e ainda de lucro conseguiria se livrar de Jack Creed, algo que ela ainda estava planejando como fazer antes de encontrar Reid. Além do mais, um Caçador de Dêmonios, conhecedor do sobrenatural e amante do obscuro ia fazer muitas perguntas e se interessar demais pelas Moedas Maias quando descobrisse que elas traziam uma única e simples coisa...Imortalidade.



André Bludeni

Quer conferir os outros capítulos?

Capítulo 1 - Eleanor Reid

Capítulo 2 - Jack Creed

Capítulo 3 - Aquele-Que-Sabe

Capítulo 4 - Maya

Capítulo 5 - Chichiu

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

De Tudo Um Pouco: A Melhor série de Todos os Tempos...Da Última Semana

  A ideia deste post surgiu no final do ano passado, quando acompanhei o lançamento do Box, ou melhor, do Barril de Blu-Rays com Breaking Bad completo. Pois foi quando surgiu a questão Breaking Bad ser considerada a melhor série de todos os tempos. 




Algum tempo depois, um amigo meu, que é figura pública, postou no facebook que estava novamente assistindo Lost, e que ela era sem sombra de dúvidas a melhor série de todos os tempos, essa declaração gerou uma grande repercussão a respeito e, principalmente, muita gente concordando que era Lost a melhor série de todos os tempos.



  Ao encontrar com um grande amigo, também aficionado por séries, começamos essa conversa, e ele acreditava que Game of Thrones poderia vir a se tornar a melhor série de todos os tempos, mas que teríamos de esperar pelo menos até o final da série, pois ele até concordava que Lost realmente tinha revolucionado a televisão mundial, mas que o final tinha deixado a desejar. 



Para mim, nenhuma delas é a melhor série de todos os tempos, uma talvez possa ser... Fazendo uma análise rápida sobre as três, explicarei o porquê desta minha conclusão.

  Game of Thrones ainda está no meio de sua jornada, realmente o material base, os livros escritos por George R. R. Martin, ajudam e muito a esperança de que ela terá uma boa qualidade até o final de sua jornada, porém, por mais que a série tenha todo um grande aparato orçamentário a seu favor, somado a uma história interessante, com elenco convincente, Game of Thrones não é uma série que agrada a todo o público, ela chama a atenção sim, mas ainda assim não é aquela série que consegue mexer com a grande maioria do público. Algo diferente que aconteceu com Lost, que conseguiu ao longo de toda a sua jornada prender a atenção e gerar discussões desde o seu começo até o derradeiro desfecho. Então Lost deve ser considerada a melhor série de todos os tempos? Não. Pois a jornada de Lost foi muito falha, começou verdadeiramente muito bem, as três primeiras temporadas foram excelentes, a 4ª temporada é interessante, porém na 5ª temporada a coisa fica terrível de uma forma surpreendente e chegando ao final melancólico da série. O problema com Lost, para mim é que ela cresceu mais do que o esperado e os criadores não souberam exatamente como lidar com isso, abriram diversas frentes, e depois quando viram que se perderam, começaram a tentar amarrar as coisas, mas daí já era tarde demais e a série como um todo ficou com aquele gostinho de poderia ter sido, mas não foi. Já com Breaking Bad a questão é a seguinte, a série é bem escrita, os personagens são muito bem construídos, o desenvolvimento e a transição de Walter White em Heisenberg é algo fenomenal, são seis temporadas de tirar o fôlego, onde se assiste um episódio já querendo ver o próximo, consegue agradar a maioria do público, fazer com que se fique falando sobre ela... Então por que eu não a considero como a melhor série de todos os tempos? Por um simples motivo, tempo. Breaking Bad acabou de terminar, ela ainda está “fresca” na memória de todos, ou seja, análises que estão sendo feitas, seguem um campo muito mais da euforia, do calor do momento, do êxtase. O que eu quero dizer, ou melhor, questionar quanto a Breaking Bad é: será que daqui há 10 anos o sentimento será o mesmo. A série ainda terá a mesma relevância, ou será somente mais uma grande série de seu período como foram, por exemplo: Dallas, House, Frasier, Cheers e Cosby? E que hoje são lembradas mais pelos saudosistas com um leve sorriso e nada mais do que isso.
Breaking Bad pode, com o tempo, realmente reclamar o trono de melhor série de todos os tempos, mas ainda é muito cedo para isso. Ela deverá vencer a batalha contra o tempo e o esquecimento, em tempo de vídeo on demand ela pode ser favorecida a ficar na memória do espectador que pode revê-la de tempos em tempos, porém até que ponto será que o espectador realmente vai querer rever algo em uma “biblioteca” tem farta de novidades a todo o momento?

  Caso alguém questione qual série eu considero a melhor série de todos os tempos?

  Na verdade, para mim esse posto é dividido por duas séries. Curiosamente duas comédias que o público não tinha o compromisso de assistir a todos os episódios para entender a trama como um todo. São elas Friends e Senfield. Duas séries, que mesmo quem não goste de comédia, entende e as respeita. Respeita a sua importância. E que ainda hoje se mostram relevantes como história. São sempre citadas, assistidas, com seus elencos sendo ovacionado (não importa o papel que eles estejam interpretando). Friends e Seinfeld venceram a batalha que Breaking Bad ainda tem pela frente pelos próximos 10 anos.



  Um adendo – Engraçado como o tempo vai mudando as coisas, e atualmente cada vez mais rápido. Enquanto revisava o post, fiz uma rápida análise do cenário maior dos dias de hoje e coloco Friends como a melhor de todos os tempos, um pouco a frente de Seinfeld. Mas absoluta no topo, mas por um simples diferencial, porque após 10 anos do seu término fãs da série ainda cobram por uma reunião especial em um episódio, algo que já não acontece com Seinfeld, não que isso seja um demérito. Na verdade, não é nem culpa da série, e sim culpa dos fãs de Friends, que talvez tenham um problema maior com o desapego.

   


Alexandre Araújo