quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Destinos Entrelaçados: Capítulo 6 - Um Gole de Vingança

  O Twinings de laranja com canela já tinha esfriado fazia mais de meia hora, mas as mãos de Maya continuavam a tremer de nervoso. Vestia um conjunto social com creme, uma péssima escolha para o local, mas Maya sempre vestia-se impecavelmente. Ela precisava estar lá, pois o que tudo indicava a verdadeira moeda não estava no museu que trabalhava e sim uma réplica. Maya descobrira com o tempo que isso era muito rotineiro pelo risco que as artes e relíquias sofriam por ser roubadas ou danificadas.Isso explicava por Eleanor Reid ter a última peça da coleção.

  Foi uma surpresa o Caneca de Prata ter seu chá preferido para ser servido, mas naquele lugar nada era muito previsível. Nas duas horas que ficou sentada esperando Eleanor , inúmeras coisas inusitadas aconteceram a sua volta naquele bar. Teve briga de duas prostitutas com direito a joelhadas na cara de uma delas até a pobre mulher cair desacordada no chão, uma noiva com mais de 200kg de mãos dadas a um pequeno anão careca, um mutirão de crianças de rua fazendo um rápido assalto a um turista desprevenido, e claro, os clássicos bêbados que faziam suas micagens pelo excesso de bebida ingerida.

  A jovem estava nervosa com a visita que receberia. Não via Eleanor há anos e pelos rumores que se ouvia dos antigos colegas, sua sanidade mental tinha piorado com o tempo. Na verdade Eleanor Reid nunca tinha sido sua amiga mais "normal", mas era possível ter uma certa convivência com a mulher, mas ao que tudo indicava, as coisas tinham mudado bruscamente.

  Já havia passado muito tempo desde a hora marcada por Eleanor, logo ela tivesse desistido ou apenas tudo isso fora uma brincadeira de mal gosto da antiga amiga. Respirou fundo, deu um grande gole no chá frio e decidiu-se levantar para ir embora daquele horrendo lugar.

  Na mesma velocidade que se levantou, teve que voltar a sentar pois sentiu uma forte coisa lhe empurrando no ombro esquerdo para baixo. Era o cano do rifle de Eleanor que, em seguida, desfilou até o outro lado da mesa e sentou-se delicadamente repousando seu "bebê" ao lado da xícara de Maya.

  "Elly, quanto tempo...Estou tão feliz em te ver" Maya forçou um sorriso e colocou as mãos para baixo tentando evitar que Eleanor visse a tremedeira.

  "Você sabia que muitos animais ao perceberem que  seus predadores estão próximos, fingem estarem feridos ou mais dóceis para serem evitadas na hora da morte?" Os olhos de Eleanor se apertaram deixando a cicatriz da têmpora mais vermelha. As mãos da caçadora viraram carinhosamente o rifle com o cano virado para a jovem moça morena.

  "Elly, pare de besteiras! O que foi que eu fiz de errado? Nunca lhe fiz mal, pelo contrário! Somos amigas e sempre serei grata por tudo que fez a mim. Me guiou pelos lugares mais inóspitos e até por suas indicações que consegui meu emprego no museu!" Era a vez de Maya tomar o controle novamente da situação, pois aquele rifle apontado para seu peito não era algo muito de seu agrado.

  "Exatamente!" Eleanor gritou e bateu com o punho fechado na mesa assustando todos no local. "Eu levei você para todos aqueles malditos lugares para você procurar aquelas malditas moedas, lhe indico para seu maldito emprego e o que você faz? Você chama o MALDITO Jack Creed para lhe fazer um favor!?"

  Maya respirou fundo e não mudou o tom de voz. "E você se apressou e não deixou eu terminar o meu plano".

  "Pla..plano?" Pronto! Maya conseguiu o que queria. Tomou as rédeas da situação.
  "Sim, plano! Eu sei o quanto odeia Jack por ele ter feito....aquilo..." com receio Maya apontou pra cicatriz "... por isso contatei ele. Minha intenção era fazer com que ele pegasse a última moeda para mim e em seguida você o pegasse desprevenido. Bastava eu ligar para você avisando. Mas ao que tudo indica você já tem a moeda e agora só estamos em uma situação de quanto devo te pagar para tê-la."

  "Bem...então...Na verdade, eu não tenho a última moeda. Foi um método que arranjei para ter certeza que viria..." Eleanor abriu o maior sorriso que conseguia enquanto Maya ficava roxa de raiva.

  "O quê!? Você me fez acreditar que a moeda do museu era uma réplica? Então aquela é mesmo a verdadeira! Como pode Eleanor? Sabe que eu procuro elas todas praticamente minha vida inteira! Imagina se eu desistisse de contratar Creed para pegá-la se realmente eu achasse que era uma réplica!" Maya voltou a tremer e deu um gole desgostoso no chá.

  "Dane-se sua traidora! Você sabe o que ele fez comigo! Eu já te contei milhões de vezes e eu não estou falando dessa cicatriz na minha cara! Eu quero Jack Creed morto junto com os fantasmas que ele caça!" Lá estava a velha e vingativa Eleanor de volta.

  "Calma! Eu já falei que tenho o plano! Deixa ele pegar a moeda para mim que o entrego de bandeja para você!" Maya respirou fundo novamente sendo o oposto de Eleanor. "Aliás, é sério mesmo essas coisas de espíritos e demônios? Jack Creed é mesmo o melhor caçador sobrenatural?" Os olhos de Maya voltaram a brilhar entusiasmada.

Aquela curiosidade pelo além de Maya enojava Eleanor. Ela já tinha presenciado uma coisa ou outra, mas Maya mal sabia o que buscava. Era um caminho sem volta e que Reid decidiu não trilhar por razões óbvias.

  "Jack Creed pode ser o maior canalha de todos os tempos, mas depois da morte do pai dele, aquele homem viu coisas que ninguém deveria ver. Tornou-se algo...indescritível." Reid falou com descaso colocando seu fone de ouvido e procurando uma música em seu mp3.

  "Parece que ele não foi o único a surtar depois da morte do pai..." Maya falou baixo enquanto levava a xícara de chá até a boca.

  "Vou fingir que não ouvi isso, Maya. Para seu bem!" Os fones de ouvido começaram a tocar um rock metal no máximo volume.

  Maya revirou os olhos e levantou-se. "Eu te contato quando tiver tudo pronto com Jack para você pegá-lo e... Aliás, o que você pretende fazer com o homem?"

  Eleanor abriu um sorriso de canto e puxou seu rifle. "Normalmente alguém sempre costuma morrer nos meus planos."

  "Que seja! Eu só preciso que antes você deixe ele pegar a moeda para mim." Maya pegou sua bolsa e fez menção de alcançar a carteira no fundo para pagar o chá.

  "Não se preocupe. Essa fica por minha conta." Eleanor piscou enquanto pegava o segundo fone para colocar no ouvido e encerrar a conversa.

  Maya forçou um sorriso em agradecimento, mas ainda estava indignada com o volume da música. "O que está ouvindo, sua maluca?"

  "Porcos Voadores de Marte, ué? Nunca ouviu eles? Não era você a Senhora Cultura?" o sarcasmo e ironia eram evidentes para Maya.

  "Essa banda deve ter escapado das minhas escolhas semanais." O barulho dos saltos na madeira velha se afastaram com força de Eleanor que nem deu bola para a resposta. Apenas deu um tiro de rifle em direção ao bar e pediu seu bourbon aos gritos fazendo mais uma vez todos se assustarem dentro do bar, menos um velho bêbado caído no chão. Talvez ele estivesse morto, ma quem se importava?

  Pronto! Maya havia conseguido! Conseguiu fazer a cabeça de Eleanor e ainda de lucro conseguiria se livrar de Jack Creed, algo que ela ainda estava planejando como fazer antes de encontrar Reid. Além do mais, um Caçador de Dêmonios, conhecedor do sobrenatural e amante do obscuro ia fazer muitas perguntas e se interessar demais pelas Moedas Maias quando descobrisse que elas traziam uma única e simples coisa...Imortalidade.



André Bludeni

Quer conferir os outros capítulos?

Capítulo 1 - Eleanor Reid

Capítulo 2 - Jack Creed

Capítulo 3 - Aquele-Que-Sabe

Capítulo 4 - Maya

Capítulo 5 - Chichiu

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