Acredito que tenha sido em um Domingo, talvez sábado, mas era um dia tranquilo onde eu estava sentado no tapete da sala pegando brinquedos coloridos aleatoriamente e batendo neles um no outro e de vez enquanto jogando-os longe. Passava algo na TV sobre alguma notícia da época que realmente para mim, naquela época, não fazia nenhuma importância.
Eu era o centro do universo, tudo girava a minha volta. Aquilo obviamente era meio novo para mim, mas eu sabia que era só fazer alguma "micagem" para ganhar sorrisos e risadas e chorar para algo mais urgente. Sempre funcionava, pois minha mãe sempre estava do meu lado. Minha rainha, nós éramos como carne e unha. Eu sei que nossa relação não era tão recíproca, já que ela fazia tudo por mim e eu apenas dava uma risada e aquilo servia de "pagamento" por todo o dia que ela dedicou-se.
Meu pai eu via pouco. Sempre saia cedo de casa e voltava tarde, mas a primeira coisa que ele fazia ao chegar, independente de tão cansado ou nervoso que estivesse, era me pegar no colo e me tascar um beijo na testa. Viu como eu era a sensação do momento?
Falando sobre meu pai e voltando para aquele dia, enquanto eu destruía aqueles brinquedos, ele cochilava no sofá. Provavelmente era para ficar de olho em mim, mas o cansaço de ver um bebê babão viver em seu mundo paralelo o venceu. Foi quando minha mãe chegou na sala com um certo desespero acordando meu pai. Ela falava algo que deviam correr e ser rápidos, mas honestamente eu não entendi muito bem e tentar desmontar o caminhãozinho parecia ser muito mais importante.
Eu me dei conta que havia um core-corre quando meus avós também chegaram em casa ajudando a montar algumas malas. Meu avô é um senhor sério, com olhos pequeno, mas que cresciam atrás dos óculos de lente. Tudo o que acontecia na família, tinha que passar por ele. Um homem de poder. E sempre com seu cigarro, mas nunca perto de mim. minha avó é um anjo na terra, sempre sorrindo e atenciosa. Uma segundo mãe, no modo mais clichê de se dizer.
A coisa realmente estava séria quando eu percebi que todos, inclusive eu, estavamos dentro de um carro indo para um lugar que eu não fazia idéia do que era. Minha avó me segurava, mas pela primeira vez não me dava atenção, pareciam estar todos preocupados com a minha mãe. Foi quando eu percebi que ela parecia sentir dor, e muita.
Quando chegamos ela e meu pai foram para um lado enquanto meus avós me levaram para outro. Foi aí que me desesperei e comecei a chorar. Com certeza eles iriam voltar e me paparicar como sempre faziam quando eu chorava, mas desta vez não foi assim. Eles não voltaram. Eu chorei mais alto e mais forte e nada, Meu rosto ficava vermelho, meu nariz escorria e as bochechas ficavam encharcadas de lágrimas, mas nada de mamãe e papai. Eu tinha a minha avó que tentava me acalmar, mas não era a mesma coisa. Não eram meus pais do meu lado. O que estava acontecendo?
Dizem que se passou horas, eu realmente não sei dizer, mas estava cansado, sonolento no colo da minha avó que assistia a pequena TV daquela salinha. Ela parecia preocupada, mas meu avô era pior, pois mal o vi de tantas vezes que ele saia daquele lugar enorme para fumar.
Pessoas de branco, gente com dor e outros familiares passavam a rodo pela gente e nada de meus pais. Eu estava quase desistindo que os veria novamente. Desistido que um dia eu voltaria a ser o centro das atenções deles novamente até que...
Meu pai! Lá estava ele no final do corretor, longe, com meio corpo pra fora de uma porta nos chamando com a mão. Eu não esperei a minha avó levantar ou meu avô voltar. Eu queria meus pais de volta! Com um movimento que nunca tinha feito antes, dei um salto do colo da minha querida avó e comecei a fazer o que todo mundo fazia, mas eu me sentia na liberdade de evitar. Eu comecei a caminhar.
Eram passos desengonçados, cambaleantes, mas com pressa até meu pai. Meus avós se assustaram no começo, mas me deixaram guiá-los com um grande sorriso de orgulho no rosto. Isso seria eu voltando a ser o herói novamente?
Demorou mais do que eu imaginava até chegar meu pai que tinha um sorriso de uma orelha a outra na cara. Ele me pegou com o maior carinho que já havia feito e o beijo foi com mais amor do que eu acreditava que era possível se dar.
Ao entrarmos nessa novo quarto, encontrei minha mãe deitada em uma enorme cama. Parecia cansada, muito cansada, mas sem dor e sorrindo para mim também. Ela me deu um leve beijo e disse:
"Amanhã é seu aniversário, então eu e seu pai temos um presente para você.".
Aniversário? O que era isso? Pelo menos iria ganhar um presente. Meu pai me pegou novamente no colo e me levou a um berço. Talvez fosse a hora de eu dormir novamente, mas não. Eu tive uma surpresa ao olhar dentro do pequeno cesto de dormir.
Uma coisa pequena, enrugada, rosa e careca se mexia lá dentro. Não parecia ter dentes e as minúsculas mãos permaneciam fechadas como se ele guardasse o doce mais gostoso do mundo dentro delas e não quisesse dividir. Eu olhava aquele ser com curiosidade e desconfiança. Consegui me debruçar sobre o berço e observar mais. A "coisa" tinha um cheiro estranho, mas ao ficar o olhando, percebi que tinha gostado dele. Era simpático!
Olhei para minha mãe e disse: "É au-au?"
Todos riram e meu pai que respondeu. "Não, filho. Esse é o Daniel, seu irmãozinho."
Então aquilo era um irmão? Aquilo era ter um companheiro? Um herói? Um amigo para sempre? Talvez daquele momento para frente eu não fosse mais o centro do mundo, mas....eu gostei.
André Bludeni

Querido filho,
ResponderExcluirQue coisa mais linda! O presente é meu de ter filhos assim tão maravilhosos. Tenho muito orgulho de ser sua mãe e espero que um dia você possa ser tão abençoado como eu fui por gerar pessoas tão iluminadas quanto você e seu irmão.
Te amo
Adorei o texto André! Como vc sabe a Bel nasceu no mesmo dia do aniversário da Júlia. Só que a Ju não gostou muito não! Na época ela dizia que a Bel tinha sido o pior presente de aniversário que ela tinha ganhado.... Mas tudo passou, elas cresceram e se amam demais! Acho que irmãos são presentes dos pais! E um presente especial e carinhoso para fazer companhia a vida toda!!! bjs com carinho pra vc e para o Dani
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